Este é o último texto
dos quatro sobre o terceiro volume de Entornos
e Contornos, da Editora CNA.
O quarto eixo
temático do livro é Reflexões e Práticas
Pedagógicas no Ensino de Língua Estrangeira, o qual, dentre todos os eixos
temáticos do livro, é o mais útil para a leitura daqueles que se dedicam ao
ensino de línguas estrangeiras.
O tema foi abordado
em sete artigos: O ensino comunicativo e
o foco na forma, de Flávio Amorim da Rocha; Reflexões sobre a compreensão oral em Língua Estrangeira, de Eliane
Tiyoko Nishimori Sato; Leitura em sala de
aula de Língua Estrangeira: uma reflexão teórico-prática, de Ivandra
Catarina Walker; Material autentico: el “mundo
real” dentro del aula, de Nora Inés Di Pacce; Descripción y efectos de sentido em el uso de algunos pronombres
dativos em español, de Enrique Luis Melone; Jogos como instrumento pedagógico no ensino de inglês, de Cristiane
Koga e Giovana Silva Zanzini; e O
discurso atual de alunos de inglês – Uma leitura que extrapola a sala de aula,
de Renata Pucci.
O ensino comunicativo e o foco na forma trata de um assunto que há muitos anos, quando a
abordagem comunicativa do ensino de línguas estrangeiras surgiu, começou a
tomar conta dos espaços para reflexões quanto ao ensino de línguas: ensinar ou
não gramática de forma explícita?
Segundo o artigo,
alguns pesquisadores que suportam a abordagem comunicativa acreditam que
ensinar gramática de forma explícita quebraria o fluxo em sala de aula que
acreditam ser comunicativo. Outros pesquisadores ressaltam que sem conhecimento
teórico acerca da gramática da língua, os alunos se distanciam da correção
gramatical nos enunciados que produzem.
Flavio Amorim da Rocha
traz para dentro dessa discussão que há tanto tempo vem incomodando os
professores, principalmente os que utilizam a abordagem comunicativa, a
seguinte citação de Fotos e Ellis (1999): “O conhecimento implícito se refere
ao conhecimento intuitivo e processual. Não está, conscientemente, disponível
aos aprendizes. Os falantes nativos, por exemplo, não conseguem, normalmente,
descrever as regras que usam para construir suas frases”.
Com isso, o autor
deixa uma luz para os professores inquietos acerca do tema: levar os alunos a
deduzir o que está implícito nos enunciados abordados, ou seja, utilizar uma
abordagem dedutiva no ensino de gramática.
Reflexões sobre a compreensão oral em Língua Estrangeira vai de encontro ao assunto do artigo anterior, visto que
lembra que a compreensão oral envolve outros conhecimentos, como sintático,
semântico, lexical, discursivo e sonoro.
A autora ressalta a
importância da compreensão oral, pois é a partir da interação oral que o ser
humano se constitui enquanto pessoa; é por meio da interação social que o ser
humano aprende o que já existe e introduz o novo na sociedade; é partir dessa
interação que ele se define.
Dessa forma, nota-se
a importância do conhecimento de mundo na compreensão oral, contudo há outros
recursos que também auxiliam nesse processo, como os recursos visuais.
Os profissionais que
estão iniciando sua carreira no ensino de línguas estrangeiras encontrarão
nesse artigo, sem dúvida, reflexões importantíssimas para nortear sua prática
pedagógica; lembrando que a visão que o professor possui de língua influencia
fortemente sua maneira de ensinar.
Ao contrário de toda
a importância dedicada à fala no artigo anterior, o terceiro artigo do livro já
afirma, em seu início, que a leitura é a habilidade linguística que se faz mais
útil no contexto em que vive o aluno brasileiro, visto que ela é requerida nos
vestibulares, concursos públicos, meio acadêmico e navegação na internet,
dentre outros suportes.
No entanto, a autora
também apresenta a relação dialógica que permeia a leitura, afinal, a interação
entre os sujeitos não é exclusiva da habilidade da fala.
Na leitura, o autor
dialoga com o leitor por meio da carga pessoal que imprime no seu texto e o
leitor, por usa vez, emprega seus conhecimentos de mundo, assim como os emprega
na compreensão oral, para construir o sentido do texto que lê.
O emprego dos
conhecimentos de mundo do leitor no processo de construção de sentido é
responsável pelas diferentes interpretações que diferentes leitores podem obter
a partir de um mesmo texto ou mesmo as interpretações obtidas não esperadas
pelo autor.
Além dessas
considerações, a autora faz muitas outras que os professores de língua
estrangeira precisam conhecer para desenvolverem atividades de leitura efetivas
com suas turmas.
Já o primeiro artigo
escrito em espanhol que compõe o quarto eixo temático do livro trata da
dificuldade que o professor de línguas tem em escolher materiais autênticos
para serem utilizados em sala de aula, dada a grande variedade dos mesmos.
Ao citar as vantagens
do uso de materiais autênticos em sala de aula, Nora Inés Di Pacce lembra que
isso não se trata de banir o livro de didático do contexto de ensino e
aprendizagem de línguas, visto que por ser organizado em unidades temáticas,
ele é um importante referencial tanto para professores como alunos. O uso de
materiais autênticos, dessa forma, é uma maneira de enriquecer o processo de
ensino e aprendizagem.
A autora menciona que
os textos dos livros didáticos e a fala do professor são textos com estruturas
simples, correção gramatical e focam o uso das estruturas que estão sendo
estudadas no momento, ao passo que os textos autênticos enriquecem o contato do
aluno com a língua, devido à variedade de situações linguísticas que
apresentam.
É sugerido que ao
longo da sequencia didática exposta pelo livro, se encontre um espaço para
introduzir materiais autênticos, ou mesmo que atividades que estão presentes no
livro sejam substituídas por outras com materiais autênticos, afinal, nem tudo
que é proposto pelo livro pode ser útil para a realidade da turma em questão.
Entretanto, para que
a inserção desses materiais nas aulas dê bons resultados, é importante que se
escolha o gênero textual adequado ao que se quer abordar. Além disso, uma
verdadeira tarefa comunicativa consiste em levar o aluno a produzir algo.
Por fim, a autora
lembra que os gêneros textuais possuem estruturas semelhantes na maioria das
línguas, o que pode facilitar a compreensão do aluno, mas, ao mesmo, esse tipo
de aula demandará mais tempo de preparação por parte do aluno.
Enrique Luis Melone,
em Descripción y efectos de sentido em el
uso de algunos pronombres dativos em español, faz uma profunda reflexão
teórica sobre um certo tipo de pronome da língua espanhola.
Ela já inicia seu
texto mencionando a herança gramatical do latim que o espanhol herdou no que
diz respeito ao emprego dos pronomes.
Embora o autor
conclua seu texto com uma sequencia didática para a abordagem do tema, esse artigo
é mais indicado para aqueles que se interessam pela descrição gramatical do
espanhol, ressaltando que esse artigo também mostra as variações de sentido em
espanhol devido ao emprego dos pronomes. Dessa forma, fica cada vez mais claro
que embora sintaxe e semântica sejam estudos distintos, um depende do outro
para sua existência.
Cristiane Koga e
Giovana Silva Zanzini, por sua vez, iniciam seu artigo falando das representações
mentais que os alunos possuem de uma palavra, as quais são ativadas toda vez que
têm contato com essa palavra.
Elas também sustentam
as reflexões que irão tecer nos termos de Vygotsky: Desenvolvimento Real (DR),
Desenvolvimento Potencial (DP) e Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP).
Toda pessoa que quer
ser professor de línguas em escolas de idiomas tem, necessariamente, que saber
o que significam esses termos, visto que eles são a base para as relações na
sala de aula em torno da construção do conhecimento.
As autoras também
mencionam a hipótese do filtro afetivo, de Krasen. Segundo essa hipótese, se o
aluno estiver mais receptivo a aula, o filtro, o qual funciona como uma
barreira, diminui e o aluno consegue absorver com mais facilidade o que foi
abordado em sala.
A partir dessas
considerações, as autoras propõem a introdução de atividades no formato de
jogos na sala de aula, pois elas aumentam a interação entre os alunos e os
deixam mais a vontade e, consequentemente, mais receptíveis ao conhecimento.
Finalmente, o último
artigo do livro aborda o discurso dos alunos e professores de língua
estrangeira, mais especificamente, daqueles inseridos no contexto de ensino e
aprendizagem de língua inglesa.
Esse artigo é marcado
por reflexões provenientes de Bakhtin, por isso, é um deleite para aqueles que
se interessam por semiótica.
A autora inicia seu
texto afirmando, com base em Bakhtin, que não é possível encontrar a língua
fora do contexto social, o que já foi mencionado em outros artigos desse eixo
temático, mas de formas diferentes.
É por meio da língua
que o sujeito se define em relação ao outro. Contudo, nossos discursos trazem
em si traços dos discursos dos outros.
Ela ainda diz que a
palavra apenas produz sentido se associada ao concreto, ou seja, ao que ela
representa na realidade; do contrário, ela não quer dizer nada.
No que diz respeito
aos discursos de outrem, ao citar Bakhtin, a autora acrescenta que eles não
apenas permeiam nossos discursos, mas é a eles que respondemos, concordando,
discordando ou acrescentando algo.
Por fim, ao analisar
o discurso de uma professora e sua turma quanto à importância de se estudar inglês, a autora
ainda ressalta que os signos linguísticos são diferentes em cada língua, devido
aos discursos que a permeiam.
Enfim, mais uma vez,
recomenda-se a leitura do terceiro volume de Entornos e Contornos não apenas
aos professores de língua estrangeira, mas também aos coordenadores pedagógicos
desse tipo de professor e aos gestores de escolas que ensinam alguma língua
estrangeira.
Se esse artigo lhe chamou a atenção, leia
também o texto Novas Tecnologias
Educacionais e Educação a Distância, que é o primeiro eixo temático do
terceiro volume de Entornos e Contornos,
disponível em http://aestarepravoopina.blogspot.com.br/2014/03/novas-tecnologias-educacionais-e.html#links, o
texto Desafios para Formação e Atuação do
Professor de Língua Estrangeira, que é o segundo eixo temático do mesmo
livro, disponível em http://aestarepravoopina.blogspot.com.br/2014/03/desafios-para-formacao-e-atuacao-do.html#links e o
texto sobre o terceiro eixo temático do livro, Questões Afetivas e Cognitivas Dentro e Além da Sala de Aula,
disponível em
http://aestarepravoopina.blogspot.com.br/2014/03/questoes-afetivas-e-cognitivas-dentro-e.html#links.
Referências bibliográficas
CARÁ JÚNIOR, Jaime;
Silva, Sérgio Luis Monteiro da. (org.) Entornos
e Contornos: desafios contemporâneos em contextos de ensino e aprendizagem.
Volume 3. São Paulo, Editora CNA, 2010, p. 203-336.
Luciana Estarepravo da Silva
Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em
Letras (Português/Inglês)