quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Como escolher a melhor escola de idiomas?



            Se você já decidiu que quer fazer um curso de idiomas ou quer comprar um para alguém (filhos, cônjuge, afilhados), tenha em mente os aspectos abaixo, os quais vão te auxiliar a tomar a melhor decisão. (Se você está pensando em matricular seu filho num curso de inglês, não deixe de ler o meu texto Quando matricular meu filho num curso de inglês?)
            Fui professora de inglês em escolas de idiomas por mais de nove anos, tendo trabalhado em três escolas diferentes, sendo as três franquias de redes famosas, com isso, este texto fornece uma visão de alguém que conhece “o outro lado” daquilo que é vendido, no caso, o curso de idiomas.

            O que devo levar em conta quando eu for comprar um curso de idiomas numa escola de idiomas?

1)  Objetivo do curso

Primeiramente, você deve saber o porquê de querer comprar um curso. Isso influencia o tipo de curso que você vai comprar. Os objetivos mais comuns são:
·       Quero fazer um curso de idiomas porque um dia talvez eu precise dele ou porque acho importante ter um curso de idiomas no meu currículo – Nesse caso, a melhor modalidade de curso para você é o regular, aquele com aula duas vezes por semana, de uma hora ou uma hora e quinze cada, ou aulas uma vez por semana, de duas horas ou duas e meia (eu sempre recomendo a modalidade regular com aulas duas vezes por semana, de uma hora ou uma hora e quinze cada).
·         Já falo o idioma, mas quero relembrar, pois não pratico há muito tempo – Nesse caso, quando você estiver falando com o vendedor de cursos, mencione que você já estudou o idioma e peça para fazer um teste de nível (geralmente é uma prova escrita – que pode ser no papel ou online - e, dependendo do resultado, você faz uma segunda prova, que é oral). As escolas de idiomas não cobram nada para aplicar um teste de nível, mas nem sempre elas te oferecem a opção de fazê-lo. Por isso, é importante mencionar que você já tem conhecimento do idioma, assim, você faz o teste e consegue saber em que nível do curso oferecido naquela escola você deve ingressar. Não há necessidade de começar do básico se você já tem bastante conhecimento. Por mais que muitas pessoas interessadas em relembrar aquilo que já sabem acham que é bom recomeçar o curso do básico, posso garantir pela experiência que tenho que isso não é uma boa ideia, nem para você, nem para a escola de idiomas, nem para o professor e nem para seus colegas de turma. Se você já tiver bastante conhecimento e decidir recomeçar o curso do básico, você logo perderá a motivação, assim que perceber que está revendo uma série de coisas que você já sabe, num ritmo lento, afinal, seus colegas de turma são iniciantes e você também perceberá que quando você tenta puxar um papo mais avançado com o professor, por exemplo, ele parece te evitar, pois essa é a nossa reação natural, enquanto professores, porque um aluno “fora de nível” numa turma iniciante desmotiva os demais alunos que estão partindo do zero, visto que eles não entendem nada que o “sabichão” está dizendo. Além disso, esses colegas acham que o professor está dando mais atenção para o “sabichão” porque ele já sabe falar inglês. E tem mais: alunos “fora de nível” fazem perguntas sobre assuntos que a turma nem estudou ainda, o que além de atrapalhar a aula, porque consome tempo com o professor tendo que explicar algo que ainda será estudado ao longo do curso, confunde mais ainda a cabeça dos iniciantes, que por vezes estão se esforçando para entender conceitos mais simples. Isso tudo é ruim para a escola de idiomas também porque, no final das contas, ou ela vai perder você, que insistiu em começar numa turma que estava muito abaixo do seu nível e, depois de umas aulas, se desmotivou, ou a escola vai perder os outros alunos da turma, que vão sair da escola porque acham as aulas muito complicadas devido a sua indesejada presença. Com isso, pela minha experiência e pelo bem dos meus colegas professores de escolas de idiomas, eu te peço: faça o teste de nível e ingresse na turma adequada!
·         Preciso do idioma para meu trabalho – Nesse caso, o curso que você vai fazer depende muito. Se você está na empresa e ela está te cobrando o idioma geral hoje para que você permaneça nela ou mude de cargo, a melhor opção são os cursos intensivos. Eles acontecem nas férias, com aulas todos os dias, de duas horas para mais por dia, ou acontecem o ano todo, com aulas todos os dias, ou mais que duas vezes por semana. Já dei esse tipo de curso e, sinceramente, só indico essa opção se seu emprego realmente depender de falar o idioma logo. Já mencionei no texto e repito: por experiência própria, a melhor maneira de se aprender um idioma é fazendo o curso regular, duas vezes por semana, com aulas de uma hora ou uma hora e quinze cada e, no caso do inglês, se você começar o curso nessa modalidade numa idade a partir de 12 anos e não repetir nenhum módulo, você terá concluído o curso em cinco anos. É isso mesmo! Curso de idiomas, principalmente de inglês, é um investimento de longo prazo! Esses cursos intensivos, sinceramente, não te ajudam a fixar a língua tão bem em sua memória como os cursos regulares por uma simples razão fisiológica. Não vou entrar em aspectos cognitivos nesse texto, mas acredite: cientificamente há argumentos que provam que aprender um idioma num curso regular é mais eficaz do que aprender num curso intensivo. Portanto, se a promoção ou a oportunidade de viagem ao exterior puderem esperar um pouco, faça o curso regular, lembrando que você não precisa esperar terminar o curso após cinco anos, no caso do inglês, para aí dizer que consegue se comunicar no idioma. No caso do inglês, se você fizer um curso regular, ao final do segundo ano, você já terá conhecimentos suficientes para conversar bem em inglês e inclusive fazer uma viagem ao exterior com tranquilidade. A maioria das escolas de idiomas oferece a modalidade bussiness English, ou seja, inglês para negócios. Esse curso é voltado para quem trabalha em empresas, já fala inglês e precisa aprender termos técnicos. É uma opção para aprimorar o conhecimento que você já tem e ganhar conhecimento no seu ramo. Em geral, as aulas dessa modalidade de curso não são tão divertidas se comparadas ao curso regular, pois o assunto é negócios. Em geral, o professor não domina o assunto, visto que ele domina a língua, não o ramo negócios. Com isso, o sucesso do curso depende muito dos alunos partilharem suas experiências em sala. Já vi escolas de idiomas que oferecerem cursos de inglês bem específicos: inglês para profissionais da área do turismo, inglês para profissionais da área do petróleo e gás, inglês para taxistas etc. Esses cursos tendem a ser mais curtos que um curso regular, mas também ensinam o aluno a se comunicar somente num contexto específico, logo, se você for um taxista, por exemplo, e seu cliente te fizer uma pergunta fora do roteiro, você ficará numa situação desconfortável. Por isso, volto a insistir. Faça o curso regular! Faça o curso regular primeiro e, depois, faça esse curso mais voltado para seu ramo de atuação.
·         Preciso me preparar para prestar um exame de proficiência – O número de pessoas que busca escolas de idiomas para se preparar para o TOEFL, IELTS e outros exames vem crescendo graças a ampliação das oportunidades de cursar parte da graduação ou pós-graduação no exterior, fato que advém das parcerias estabelecidas pelo governo com outros países ou mesmo parcerias entre universidades brasileiras e estrangeiras. Há cursos preparatórios, mas não cheguei a ver turmas com muitos alunos nessas modalidades, pelo menos não nas escolas onde trabalhei. Vi alunos fazendo o curso na modalidade aula particular. Se você tiver disciplina para estudar sozinho, vale a pena comprar materiais didáticos preparatórios e estudar por conta, mas só se você domina o idioma. Se não domina, aí sugiro procurar uma escola de idiomas e verificar o curso preparatório, pois além de você aprender as técnicas para prestar bem o exame e ter acesso a simulados, o professor vai identificar seus pontos fracos e te ajudar a superá-los.

 2) Localização da escola

Escolha um local que seja de fácil acesso para você. Imagine só você trabalhar o dia inteiro e, no final do dia, ter que enfrentar um tráfego intenso para chegar à escola. Logo você perderá a motivação e trancará o curso e não queremos que isso aconteça! Além da questão do tempo no caminho, é importante você saber que não adianta chegar cinco minutos atrasado toda aula. Aula em escola de idiomas segue uma estrutura determinada pelo método/metodologia usado pela escola e cada minuto é preparado pelo professor. Em geral, de cinco a oito minutos iniciais da aula são usados para o warm-up. Não vou entrar em detalhes do que seja, mas se você perde esse momento, você se atrapalha e atrapalha a sua turma. Se for com transporte próprio, verifique o quanto vai gastar com estacionamento ou quanto tempo vai gastar procurando uma vaga onde parar.

 3)  Infraestrutura da escola

É importante que a pessoa que vai te passar as informações sobre o curso também te apresente a escola. Nesse momento, verifique se a instituição possui estacionamento próprio ou convênio com algum estacionamento. Há pessoas que pensam somente no valor da mensalidade e não se dão conta que, às vezes, o curso vai acabar saindo mais caro devido ao preço do estacionamento ou da zona azul. Verifique se as salas de aula contam com carteiras confortáveis, ar condicionado e lousa branca (porque já passou a era do giz, né?). Parece frescura, mas imagine ficar uma hora sentado numa carteira desconfortável depois de trabalhar um dia inteiro ou num dia em que você está com cólica? E aguentar o calor do verão sem ar condicionado ou com um ventilador na sua cara? Pior é a lousa de giz, atacando sua rinite e deixando a roupa branca! Verifique também se a escola possui lousa interativa (uma espécie de lousa que usa um software que torna o aprendizado mais dinâmico), TV/computador/projetor de slides na sala de aula, laboratório de informática, biblioteca e sala de estudos, pois esses recursos diversificam as aulas. É bom questionar com que frequência os professores utilizam esses recursos, porque não adianta a escola possuí-los, se não os utiliza. Verifique se a sala de espera é confortável (com TV, revistas, música e wi-fi) para você aguardar o início das aulas; se os banheiros são bem cuidados, se há bebedouro, cafezinho... Caso você vá comprar um curso para uma criança, é interessante verificar se a escola possui uma sala ambiente para crianças, com carteiras do tamanho adequado, brinquedos e decoração adequada à faixa etária, pois isso estimula o aprendizado.

 4) Valor do curso

É importante saber qual é o valor da mensalidade, se há desconto para pagamentos efetuados até determinada data no mês, se há desconto por nota (há escolas de idiomas             que oferecem isso como forma de incentivar os alunos a se destacarem), mas muita gente pensa só no hoje, ou seja, se a mensalidade irá caber no seu bolso hoje. Essa maneira de pensar pode te dar problemas a médio prazo! Por isso, não deixe de questionar como funciona o reajuste de mensalidade (quando é e como é): se é no começo do ano, se é quando você muda de módulo/nível, se é quando o contrato é renovado, se há uma porcentagem fixa de aumento ou se o aumento segue algum índice. Muita gente desiste do curso depois de um ano porque não estava preparado para o aumento. Pense nisso antes de fechar o contrato, para não começar um curso e ter que parar no meio do caminho.

 5) Material didático

Não é só o valor da mensalidade que vai mexer com o seu bolso. Há também o valor do material didático. Verifique com que frequência você terá que adquirir um novo material didático: semestralmente, a cada oito meses, anualmente... Verifique também qual é a forma de pagamento (à vista, se aceita cheque ou cartão de crédito, se há desconto). Às vezes, a mensalidade é barata, mas o valor mensal acaba saindo caro devido às parcelas do material didático. Há alunos que desistem do curso quando mudam de estágio/módulo/nível, porque não se programaram para comprar o material didático. Além do valor, atente-se para itens extras desnecessários. Em geral, o material didático é composto pelo livro didático e o CD de áudio. Há escolas que vendem alguns itens extras que não convém mencionar aqui, mas que fazem exatamente o que o CD de áudio consegue fazer. Seria um gasto desnecessário, embora possam ser itens úteis e mais práticos que o CD, por exemplo. Não se encante com itens extras, porque quando você vai pesquisar um curso de idiomas, está animado a estudar tudo quanto é material que te é oferecido e acha que vai desfrutar de todas as aulas extras gratuitas que a escola oferece, acha que vai ler os livros da biblioteca da escola, acha que vai fazer todos os exercícios do portal online, mas, com minha experiência de professora, eu te garanto, quando o curso começar, é provável que você atrase ou deixe de entrar até as tarefas obrigatórias. No final das contas, é bem pequeno número de alunos que nos cinco anos de curso, no caso do inglês, desfrutam mais de cinco vezes de algum recurso extra oferecido pela escola.

 6) Cláusulas contratuais

Esperamos que você não desista do curso de idiomas no meio do caminho, mas e se você ficar desempregado e precisar trancar o curso? Verifique no contrato qual é a multa por desistência. Às vezes, compensa terminar o curso ou o módulo porque o valor da multa acaba sendo maior que o total das mensalidades restantes. Também verifique qual é a multa por atraso no pagamento das mensalidades. Muita gente se esquece de pagar a mensalidade do curso de idiomas porque não é algo tão “vital”, quanto aluguel, água, luz e internet. Também verifique a cláusula sobre o número mínimo de alunos por turma ou garantia de turma no nível que você vai cursar. É comum você começar o curso básico 1 numa turma de doze alunos. Ao final do básico 1, dessa turma de doze alunos, um aluno reprova e vai para outra turma de básico 1, outro aluno muda de horário devido ao trabalho, outro aluno muda de horário devido à escola regular, outro tranca o curso e, no final, a escola alega que não há o número mínimo de alunos para manter a turma. Aí, a escola te oferece outro horário de aula, mas nem sempre esse horário é bom para você. Por isso, verifique bem essa cláusula do contrato.

 7) Formação dos professores

Perguntar sobre a formação dos professores pode colocar o vendedor do curso numa saia bem justa. Pode até ser que ele chame o coordenador da escola para responder essa pergunta. Não entre na onda de escolas que dizem “todos os nossos professores são falantes nativos”. Não adianta o professor ser americano, por exemplo, se ele não tem didática, ou seja, se ele não sabe como ensinar o idioma. Infelizmente, muitas escolas de inglês contratam como professores pessoas que simplesmente falam inglês e não têm formação na área de ensino de línguas. Trabalhei com professores em escolas de idiomas que eram excelentes professores, mesmo sem ter um curso de Letras ou Pedagogia, mas esse tipo de professor não pode ser a maioria do corpo docente da escola. É importante que a escola conte com professores formados em Letras, ou Pedagogia, ou que possuam certificados internacionais que atestem seus conhecimentos na língua e em didática. Verifique se a escola possui um orientador/coordenador pedagógico que periodicamente avalia a qualidade das aulas. Repito: conheci professores de idiomas excelentes e que não tinham formação na área do ensino, mas isso não pode ser a maioria do quadro de professores de uma escola, afinal, se for para aprender inglês com um professor simplesmente porque ele fala inglês, dá para fazer isso sozinho com vídeos encontrados na internet.


Espero que esses aspectos te auxiliem ao escolher um curso de idiomas em uma escola de idiomas. Qualquer dúvida, sinta-se à vontade para perguntar nos comentário abaixo.

Luciana Estarepravo da Silva
Professora de inglês desde 2007, formada em Letras (Português/Inglês) e 
especialista em Docência da Língua Inglesa