quinta-feira, 27 de março de 2014

Retrato de um Brasil pré-Copa 2014



           Ninguém sabe qual será a impressão que os turistas estrangeiros que virão ao Brasil para assistir aos jogos da Copa do Mundo de 2014 levarão para seus países de origem e tampouco se sabe qual será a impressão que os próprios brasileiros terão do país.

            No entanto, o pensamento que permeia a nação antes dos jogos é fato e dele já se pode falar.


            Já em 2003, era de conhecimento público que o Brasil havia se candidatado para sediar o campeonato. Naquela época, a nação encarava a tentativa brasileira como um fato ousado: “Nossa! Imagine só o Brasil sediando uma Copa!”, afinal, tal feito requer bastante infraestrutura.

            Outros já viam no Brasil uma tentativa de se igualar às grandes potências mundiais, que possuem estrutura de primeiro mundo e, por isso, são mais capazes de sediar grandes eventos.

            Outros ainda diziam “Se a África pode, nós também podemos”, pensamento esse reflexo daquele estereótipo de que toda a África passar fome e sede.

            Em 2007, quando foi anunciado que o Brasil sediaria a Copa, o povo brasileiro passou a “se sentir”, como se diz atualmente no português brasileiro popular. O povo passou, num primeiro momento, a se igualar as nações do primeiro mundo, passou a se sentir capaz de tratar os estrangeiros com aquele mesmo ar que é tratado quando está no exterior.

            Num segundo momento, os brasileiros começaram a enxergar os ganhos que sediar um mundial poderia trazer à economia do país, e consequentemente, à economia individual

            Todavia, todo esse vislumbre da possibilidade de crescimento não foi um impulso suficiente para que a iniciativa privada e o poder público começassem a se mexer em busca do sucesso.

            Somente em 2012, se passou a ouvir falar em iniciativas em função da Copa.

O atraso nas obras de infraestrutura começou a ganhar destaque.

             As prefeituras começaram a se preocupar em melhorar alguns aspectos nas cidades no intuito de chamar a atenção das seleções, já que elas tinham que escolher a cidade em que irão se hospedar.

            Escolas de idiomas ou setores públicos responsáveis pela promoção social e educação começaram a promover cursos rápidos de idiomas voltados para os profissionais da área do turismo, o que, até o momento, não parece ter feito muito sucesso.

            Em 2013, com a pressão da FIFA para que as obras sejam concluídas a tempo do mundial e quantidade de dinheiro sendo investida, a população praticamente parou e destruiu o país durante ondas de protestos que, no primeiro plano, contestavam o aumento nas passagens de ônibus. Muitos acreditavam que aquele momento pelo qual passava o país (prédios públicos tomados, importantes rodovias federais e estaduais bloqueadas, adesão de classes trabalhadoras de destaque) seria o começo de um novo Brasil.

            2014 começou e até agora a população não obteve ganhos diretos com o mundial.

Os locais cuja infraestrutura foi ou está sendo melhorada para a Copa não são aqueles que a população frequenta, ou seja, as escolas, hospitais, delegacias... esses serviços essenciais continuam do mesmo jeito.

            Os pacotes turísticos para destinos dentro do país estão bem acima do preço que se praticava antes. Logo, mesmo que algum brasileiro queira aproveitar a Copa para viajar dentro de seu país, esse ano não está parecendo um bom momento.

            O estado de São Paulo sofre com uma forte seca e já está criando atrito com outros estados para conseguir água de outros sistemas de abastecimento.

            As pessoas mais espertas já estão vislumbrando a falta d’água durante a Copa no estado, visto que a densidade demográfica aumentará e, consequentemente, o consumo também.

            As escolas estão preocupadas com o calendário, porque em geral não há aulas durante os jogos da seleção brasileira, o que atrasa os conteúdos.

Os alunos de universidades públicas estão começando a se arrepender de ter lutado tanto para passar no vestibular dessas universidades, pois já estão sofrendo com um calendário que tenta compensar a falta de aulas em 2013 devido à greve dos professores e agora se vê num futuro incerto em relação à Copa.

Empresários já veem a diminuição no faturamento nos dias de jogos, do Brasil principalmente, visto que o povo não vai sair de casa para comprar certos bens nesses dias. Além disso, nas cidades-sede onde já foi decretado feriado no dia de certos jogos, os empresários estão entre a cruz e a espada: ou pagam para o funcionário ficar em casa ou pagam o adicional de feriado para ele trabalhar no dia do jogo.

            Os funcionários de empresas que já decidiram que irão funcionar, aconteça o que acontecer, já estão com medo de sair na rua ou utilizar o transporte público para se locomover, tendo em vista a possibilidade de um retorno das manifestações de 2013. Até o local de trabalho causa receio, dada a vulnerabilidade tanto de órgãos públicos quanto empresas e comércios à depredação.

            Por fim, no geral, três opiniões distintas pairam sobre o país:

  • Uns não dão a mínima para a Copa, sem olhar o passado, o presente ou o futuro;

  •  Outros torcem para

a) a seleção brasileira perder;

b) os aeroportos, trens e ônibus entrarem em colapso;

c) o atendimento aos turistas ser péssimo;

d) o caos das manifestações de 2013 se instaurar novamente;

e) todas as alternativas anteriores e o que mais existir dar errado.

 Essas pessoas acreditam que isso tudo levará o governo a alguma medida que realmente beneficie a população.

  •  Uma última parcela da população torce para que tudo dê certo e a seleção brasileira ganhe, para que todo o dinheiro investido e o trabalho realizado não tenham sido em vão e para que a nação brasileira ao menos não seja vista com olhos piores que os que a viam antes da Copa.

          E você? Compartilha de alguma dessas correntes de opinião?

           Se você tem interesse em saber o que os brasileiros pensavam enquanto a Copa 2014 estava acontecendo, leia o texto Retrato de uma Copa no Brasil, escrito em 03/07/2014, disponível em http://aestarepravoopina.blogspot.com.br/2014/07/retrado-de-uma-copa-no-brasil.html#links.



Luciana Estarepravo da Silva

Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)