domingo, 19 de novembro de 2017

Oito museus em Buenos Aires

Em julho de 2017, passei praticamente duas semanas em Buenos Aires e tive a oportunidade de visitar oito museus nessa cidade que distribui muito bem a cultura, inclusive de forma acessível. Vou falar um pouco sobre cada um deles.

Museo Benito Quinquela Martín (MBQM)

Vista lateral do terraço do museu.
Dos oitos museus, foi o que mais gostei e considero uma atração imperdível em Buenos Aires, mesmo para os turistas que fazem viagens curtas, de feriado prolongado, por exemplo. No dia em que fiz a visita, a entrada era gratuita.
A partir dele é possível ir a pé ao Caminito (aquele local com casinhas coloridas), a La Bombonera (estádio do Boca Juniors) e ao PROA (que é um centro de artes).
O museu leva esse nome porque homenageia um pintor do bairro, Benito Quinquela Martín, que pintava com uma espátula. Algumas de suas obras estão no museu. Três diferenciais me chamaram a atenção no museu:
1ª) Sala Carrancas de Proa, com proas de embarcações que afundaram no porto em frente ao museu;
2ª) Terraço com esculturas a céu aberto;
3ª) Vista do porto, Caminito e PROA do terraço. Fotos no entardecer lá em cima ficam lindas com a água ao fundo!
O museu tem uma página no Facebook que leva seu nome.

Museo de Arte Latinoamericano (MALBA)

A maioria dos blogs de turismo em Buenos Aires menciona esse museu. Como seu nome denota, seu objetivo difundir a arte da América Latina, mais especificamente o que foi produzido a partir do século XX.
Há uma taxa de entrada, mas fiz a visita numa quarta-feira, dia em que os professores não pagam. Ao entrar, é necessário guardar mochilas grandes no guarda-volumes. Fiz uma visita guiada gratuita em espanhol de cerca de uma hora, na qual a coleção permanente do museu é apresentada. Não precisei agendar para participar da visita.
A coleção do museu é extensa e bem organizada e há obras de artistas brasileiros.
Visite o site do museu para mais informações. 

Museo Participativo de Ciencias (MPC)

Também conhecido como Museo Prohibido no Tocar, é uma parada obrigatória para quem está em Buenos Aires com crianças.
O museu fica dentro do Centro Cultural Recoleta, o qual tem uma vasta programação cultural com atividades que passam pelas variadas formas de arte. Basta entrar no Centro e pegar um impresso com a programação mensal. Praticamente ao lado do Centro, fica a Igreja Nuestra Señora do Pilar e, ao lado da igreja, o Cemitério da Recoleta. Em frente à igreja, fica a Plaza Francia. Atravessando a rua do cemitério, há o Shopping Recoleta e, atrás do Cemitério, fica uma das unidades do restaurante El Club de la Milanesa, que oferece pratos fartos, saborosos e por preço justo.
No museu, cuja entrada é paga, os visitantes podem interagir com vários equipamentos e obras que abordam assuntos como percepção visual, mecânica, tecnologia, arte, luz, correntes elétricas, música, onda e som, forças da natureza, matemática etc. Ao lado das atrações, há explicações de como se deve interagir com o objeto que está ali e o que se deve observar enquanto ocorre a interação. É um local que encanta adultos e crianças e dá para passar horas lá dentro. Como visitamos o local nas férias de julho, havia muitas crianças e, por isso, ficava até difícil interagir com tudo.
Segundo o site do museu, ele está fechado no momento e a previsão é que volte a abrir em março de 2018.


Museo Nacional de Bellas Artes

Esse museu não fica nem um pouco atrás do MALBA. Lá fica uma coleção de arte argentina e também obras da arte europeia do século XIX bem interessantes.
Praticamente atrás do museu, atravessando a rua, fica o parque com a Florális Genérica, e, ao lado do parque, a Faculdade de Direito. Há um viaduto próximo à faculdade, de onde dá para tirar fotos legais, pegando a faculdade e a Florális.
A entrada do museu é gratuita. Participamos de uma visita guiada gratuita em português que introduz as obras permanentes do museu. Também há visitas guiadas gratuitas em espanhol em vários horários e não é necessário agendar para participar.
Visite o site do museu para mais informações. 

Museo Casa Rosada

Também conhecido como Museo del Bicentenário, fica atrás da Casa Rosada e a entrada é gratuita. A partir dali, também é possível ir a pé a Plaza de Mayo, que fica em frente à Casa Rosada, à Catedral Metropolitana, que fica ao lado da praça e ao Cabildo, que fica em frente à Casa Rosada, do outro lado da praça.
Lá há pinturas, esculturas e peças de mobiliário que contam a história de momentos importantes da história do país e de pessoas envolvidas nesses acontecimentos históricos. Também há ruinas preservadas do antigo forte que ficava ali.
Visite o site do museu para mais informações. 

Museo de Arte Contemporéneo (MACBA)

Esse museu fica perto do local onde acontece a Feira Dominical de San Telmo.
A entrada é muito barata e no dia em que estive lá, estudantes não pagavam.
Como o próprio nome do museu já diz, lá há obras de arte contemporânea, então, não espere encontrar aqueles quadros com pinturas tradicionais.
No dia em que fiz a visita, havia duas salas escuras, com iluminação controlada sobre esculturas de teia de aranha feitas por aranhas mesmo! Algo que eu nunca havia imaginado que veria na minha vida e o resultado ficou ótimo. Depois de visitar essa exposição temporária, assisti num auditório no próprio museu um documentário sobre como foi montada essa exibição, o que me fez apreciar a obra mais ainda. Imagine o que você pode encontrar de exposição temporária na época em que fizer a visita!
Visite o site do museu para mais informações. 

Museo del Humor (MuHu)

A entrada é gratuita e o museu fica bem próximo a Reserva Ecológica Costanera Sur. Lá há capas de revistas, quadrinhos e charges que contam momentos da história da Argentina de forma divertida. O museu fica bem próximo a Reserva Ecologica Costanera Sur.
Se você for visitar o museu, não deixe de fazer o trajeto do Paseo de la Historieta, o qual termina dentro do museu com a estátua da girafa. O Paseo é mais uma atração gratuita em Buenos Aires. É um circuito de estátuas de personagens famosos dos quadrinhos argentinos. Essas estátuas formam um circuito nas ruas nos bairros Monserrat, San Telmo y Puerto Madero. O circuito começa na estátua da Mafalda. No chão, próximo a cada estátua, há o nome da personagem, uma breve descrição sobre a mesma, o nome do autor e o ano de criação e as direções, com distância e nome da personagem que vem antes ou depois da estátua no circuito. Dessa forma, o turista vai seguindo as direções nas plaquinhas para encontrar as próximas personagens. É um passeio divertido e que garante fotos descontraídas no seu álbum de viagens!
Para mais informações, clique aqui.

Museo Casa Carlos Gardel

O museu fica na casa onde Carlos Gardel (compositor famoso de tangos) viveu com sua mãe de 1927 até sua morte em 1933. Fomos lá numa quarta-feira, dia em que a entrada é gratuita (muitos museus em Buenos Aires oferecem entrada gratuita ou por preço reduzido em algum dia da semana). Nesse museu, assim como em muitos outros da cidade, há visitas guiadas gratuitas; pegamos o final de uma delas.
            É um museu pequeno, onde se pode aprender um pouco sobre tango e sobre a vida interessantíssima desse compositor, com fatos que surpreendem.
           Para mais informações, clique aqui.

           Se você quiser mais dicas sobre Buenos Aires, leia o meu texto Dicas para organizar uma viagem a Buenos Aires.

Luciana Estarepravo da Silva


domingo, 6 de agosto de 2017

Quando as pessoas te ignoram

Primeiramente, se você chegou até aqui, leia este texto até o final. Não lhe digo isso apenas porque fui eu quem o escrevi e, por isso, obviamente, é meu interesse que você o leia. Também lhe digo isso porque nada é por acaso e, portanto, não é por acaso que você deu de encontro com esse texto. Talvez você chegue a um parágrafo que fale sobre crenças das quais você não partilha. Ainda assim lhe digo: leia até o final! Você lerá sobre outras crenças que talvez sejam as suas, ou aprenderá algo novo ou ainda poderá, unindo todas essas informações, criar um conceito só seu.
Todo texto tem uma motivação. Às vezes, passo os olhos pelos textos antigos deste blog e fico pensando “O que me levou a escrever este texto?”. Outras vezes, me lembro qual foi o motivador sem dificuldades. Hoje, tive muita vontade de incluir no próximo parágrafo a história do que aconteceu nesta semana e que me levou a escrever esse texto, mas acho que vou deixar de lado a minha vontade de me lembrar o motivo no futuro e vou priorizar a curiosidade que levou você leitor a chegar até aqui.
Passei um período da minha vida frequentando um lugar ao qual eu chegada, dava “Boa tarde” e as pessoas ali não me respondiam. Isso não ocorreu um dia ou só com uma pessoa dali. Acontecia praticamente todos os dias e eu era ignorada por mais de uma pessoa!
Não ter meu “Boa tarde” correspondido me fazia sentir sufocada. Na época, achava que era aquele ambiente que me sufocava; hoje, depois das vivências que a vida proporciona e um maior grau de autoconhecimento que vem com essas vivências, prefiro achar que o que me sufocava era a quantidade de luz e boa energia que queria emanar de mim para os outros e ali não encontrava alvos para recebê-la e minha crença insistente, na época, que essa energia tinha que encontrar pontos de conexão ali, naquele lugar.
Acredito sim que aprendemos com absolutamente tudo na vida. Não foi diferente com esse período que acabei de descrever. Se não fosse ele, talvez, esse texto não ficasse tão rico assim. Além do mais, havia mais alguém sentindo o mesmo que eu naquele lugar e, hoje, a pessoa faz parte do meu círculo de contatos frequentes e fico feliz por isso.
Tenho o costume de ficar na porta da sala de aula cumprimentando os alunos que chegam. Fico impressionada, neste ano letivo, com o número de alunos que passa por mim e nem olha na minha cara e muito menos responde o meu “Good morning!” (bom dia). É claro que fico chateada com a situação não só por ser naturalmente uma pessoa que tende a “pegar mal” com pequenas coisas (amigos que estão lendo este texto: posso parecer desligada, insensível e “de boa”, mas “pego mal” com pequenas coisas, muito embora eu não fale ou demonstre), mas também por ser professora e, como tal, achar que educação é o mínimo que as pessoas têm que ter umas com as outras para a sociedade poder ser um lugar agradável.
Contudo, depois das experiências que vivi até hoje, os textos que li, as culturas que conheci e as pessoas que encontrei, gosto de imaginar, de forma figurada, que de algum lugar é possível olhar para o mundo e enxergá-lo como um pano de fundo azul escuro e, as pessoas, como pequenos pontinhos de luz. Quando elas conseguem se conectar umas às outras, seria possível, nessa minha imagem figurada, ver caminhos de luz.
Hoje penso assim porque na minha religião (católica), comemoramos o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro porque antigamente, nesse mesmo dia, era celebrada uma festa pagã em comemoração ao deus Sol. Para substituir esse costume, a Igreja Católica determinou que se celebrasse o nascimento de Cristo nessa data, porque acreditamos que Jesus é o nosso Sol, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, livro importante para nós, depois da Bíblia:
“A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar todos os homens com a sua luz que resplandece no rosto da Igreja, anunciando o Evangelho a toda a criatura» (120). É com estas palavras que começa a «Constituição Dogmática sobre a Igreja» do II Concilio do Vaticano. Desse modo, o Concílio mostra que o artigo de fé sobre a Igreja depende inteiramente dos artigos relativos a Jesus Cristo. A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo. Ela é, segundo uma imagem cara aos Padres da Igreja, comparável à lua, cuja luz é toda reflexo da do sol”. (Catecismo da Igreja Católica, 748).
Um pequeno parênteses: historiadores apontam o nascimento de Cristo em outro mês do ano e a Igreja compartilha dessa ideia (embora muitos achem que não, mas a Igreja Católica leva e muito em consideração o conhecimento científico e, é com base nele, que boa parte de nossa tradição está consolidada), mas acreditando ser Jesus a sua luz, a Igreja buscou ofuscar a festa pagã colocando o Natal aí.
Bem, se Jesus é nossa luz, e parecemos brilhar como a Lua, astro que não tem luz própria, também podemos iluminar a noite, que pode ser o mundo, assim como o faz a Lua.
Ainda explicando um pouco a minha imagem figurada, na Bíblia está escrito: “Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa! Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós”. (Lc 10, 5-6)
Assim, acho que quando eu chegava naquele lugar e dava um “Boa tarde!”, que é uma forma mais atual de desejar a paz à alguém, e eu não era respondida, esse “Boa tarde” voltava para mim. Mas meu desejo de partilhar esse bom sentimento continuava ali, em mim, querendo encontrar alguém que o acolhesse.
Dessa forma, temos em nós uma luz que vem de Deus e naturalmente queremos iluminar os outros, mas se essa luz não encontra um ponto de conexão que queira ser iluminado, ela continua emanando da sua fonte, assim como na noite é possível ver a luz de um farol à beira mar criando um feixe de luz no céu.
Alguns amigos espíritas já me disseram (perdoem-me os espíritas se eu estiver dizendo algo que não condiz com a sua forma de entender o mundo) que eles também acreditam que as pessoas são seres que a cada vida buscam desempenhar melhor a sua missão para ser, um dia, completamente, seres de luz. Vê-se aí um exemplo claro de como religiões, filosofias e crenças têm muita coisa em comum e cabe a nós vermos a beleza que é a grande conexão que há em tudo nesse mundo, ao invés de ficar destacando as diferenças.
Tendo dito tudo isso eu quero dizer que mesmo que você tente estabelecer conexões de luz com outras pessoas, cumprimentando, ou sendo gentil, ou tentando ajudar com um conselho ou sei lá de que forma e as pessoas não acolham o que de bom você tem a partilhar, o que há de bom em você continua emanando para o mundo, abrindo um caminho como que de luz que, na minha opinião, vai te levar até outra pessoa ou vai fazer outra pessoa percorrer esse caminho de luz até chegar a você.
Para exemplificar, volto ao meu exemplo do “Bom dia!” não correspondido por muitos de meus alunos. Apesar desse meu hábito educado parecer para mim, a princípio, não estar atingindo ninguém, incrivelmente, uns alunos da escola que não são meus alunos, têm vindo a minha sala conversar comigo sem, aparentemente, motivo algum. Gosto de pensar que a minha luz chegou neles de alguma forma e eles decidiram percorrer esse caminho iluminado para encontrar de onde vinha a luz. Também colegas de trabalho que eu achava que nem estavam muito atentos a minha presença ali já me chamaram no cantinho para dizer que veem coisas boas que eu faço e que ficam felizes por isso. Outros também já chamaram no cantinho para dar um abraço e perguntar se estava tudo bem, quando de fato não estava, e eu nem imaginava que a pessoa prestasse atenção na minha existência ali e muito menos que alguém ali podia notar o que passava no meu interior. Para mim, essas pessoas são seres abertos a receber a luz que vem dos outros e, por isso, conseguem estabelecer essas conexões do bem.
Sendo assim, por fim, ressalto: seja bom, deseje o bem, seja educado, diga e faça o bem para o outro. Sei que chateia muito ser ignorado, principalmente por alguém que você achava que era seu amigo, mas o bem que é a luz que está em você vai criar caminhos iluminados no mundo e alguém vai encontrar esse caminho até você e, lá daquele ponto imaginário que minha imagem figurativa descreve, alguém vai ver uma luz muito forte brilhando entre duas pessoas e o mundo vai parecer mais lindo e iluminado. Alguém, na verdade, muitos alguéns, estão esperando encontrar essa luz que vem de você.
Um abraço de luz!

Luciana Estarepravo da Silva
Formada em Letras (Português/Inglês), especialista em Docência da Língua Inglesa, cursando Pedagogia.




sexta-feira, 7 de abril de 2017

Em que momento deixamos de demonstrar afeto?

Somos duros como gesso; escondemos nossos sentimentos, enquanto
seríamos tão mais lindos se  permitíssemos que o mundo visse nossa
fragilidade, assim como permitem as flores.
Recentemente, comecei uma segunda licenciatura (Pedagogia) e, com o curso, veio o estágio supervisionado, o qual, no primeiro momento, é na Educação Infantil (creches e escolas de ensino infantil).
No primeiro dia de estágio, a escola onde decidi cumprir o estágio obrigatório achou que eu seria útil numa turma de Pré II (crianças com quatro e cinco anos de idade). E lá fui eu, ajudar a professora no que fosse preciso.
O que acontece numa sala de Educação Infantil é novidade para mim, já que numa trabalhei em escolas regulares que oferecessem essa modalidade de ensino, contudo, a maneira como as crianças dessa idade agem não era novidade, pois dei aulas de inglês por muitos anos para essa faixa etária.
Com base na minha experiência, eu já imaginava que muitas crianças da turma iriam “gostar” de mim. Eu me lembro que quando eu era criança, gostávamos muito das estagiárias, ou das tias (no sentido de parentesco mesmo) mais jovens, ou das vizinhas adolescentes. Nos quase dez anos em que dei aulas em escolas de idiomas, eu também notava a mesma coisa. Havia horários do dia em que a escola tinha turmas de crianças e, muitas vezes, naquele horário eu dava aula para adolescentes ou adultos, mas quando passava pelas crianças, mesmo elas não me conhecendo, conversavam comigo, faziam perguntas... demonstravam uma certa atração pela minha pessoa e para mim, parecia que por algum motivo me achavam legal e queriam ter aula comigo. Não sei se essa atração dos pequenos continua quando nós, professoras (no feminino mesmo) ficamos fisicamente mais velhas e não sei se essa minha constatação já tem alguma base científica, mas para mim, é fato que crianças gostam de mulheres jovens.
Voltando ao primeiro dia de estágio, logo que entrei na sala, algumas crianças já se aproximaram de mim e começamos os primeiros contatos. “Qual é o seu nome? O que você está fazendo aqui? Você vai ficar com a gente?”...
Entretanto, o que mais me chamou a atenção e é o fato motivador deste texto foi a atitude de uma menina que demonstrou ter gostado muito de mim. Ela me mostrava seus desenhos, queria se sentar ao meu lado no momento da roda, quando as crianças sentam em círculo no chão, queria que eu brincasse com ela no parquinho, segurava a minha mão para caminhar e passava a mão no meu cabelo. Todas essas atitudes dela em relação a mim não eram exclusivas dela: outras meninas, e também alguns meninos, fizeram as mesmas coisas, mas não com tanta frequência. Até aí, tudo isso era previsível para mim.
No momento da merenda, é combinado com os alunos dessa escola que eles devem permanecer sentados, mesmo que não queiram comer. Depois de comer, essa menina, sentada perto de mim, queria que eu brincasse com ela de Adoleta. Outras crianças viram e também queriam brincar conosco, na verdade, comigo (risos). Obviamente, dei um jeito de incluir as outras crianças adaptando a brincadeira para roda, assim, nos toques de mão, as crianças teriam que tocar em que estava a sua direita e a sua esquerda.
Notei que a menina em questão não gostou muito do fato de que eu dividi a atenção que era exclusiva para ela com outras crianças.
No decorrer do estágio, fui notando que ela sempre queria sentar ao meu lado e eu, claro, sempre dava um jeito de me sentar próximo a diferentes crianças, já para que nenhuma crie um vínculo muito forte comigo, porque ficarei por ali por pouco tempo, e também porque quero efetivamente ajudar a professora da turma, principalmente no que diz respeito à disciplina. Assim, me sentar próximo a alguns alunos mais indisciplinados é o que devo fazer. No momento chamado “diversificado”, no qual as crianças passam por diferentes atividades na mesma sala, eu procuro dividir a minha atenção com todos os grupos e interajo com todas as crianças, mas a tal menina sempre quer que eu esteja com ela e ela não quer interagir com as outras crianças ou com as atividades propostas. Ela quer interagir comigo, exclusivamente!
Observando como ela exclui as outras meninas no momento da merenda, quando essas outras meninas nos veem brincando de Adoleta e se aproximam de mim pedindo para que eu brinque com elas ou como ela fica triste e se isola quando eu não me sento perto dela, comecei a refletir sobre como nós, adultos, somos diferentes das crianças no que diz respeito a demonstrar afeto!
Essa menina demonstra claramente seu afeto por mim. Ela me abraça, me chama para brincar, passa a mão no meu cabelo e quando está sentada perto de mim, dá um jeitinho de estabelecer algum contato físico, como se apoiar no meu braço. Nós, adultos, muitas vezes até queremos dar aquele abraço quando vemos alguém de quem gostamos, mas o máximo que fazemos é dar um sorriso e um “Oi”, sem estabelecer contato físico.
Quando outra criança quer estar comigo, ela descaradamente (esse é um termo bem adulto, típico de nós, que depois de crescidos, achamos quase que uma falta de pudor quando alguém que não tem um relacionamento amoroso claramente demonstra ciúmes) diz a outra criança “Sai” ou “Sou eu que estou brincando com ela (a Luciana)”. Nós adultos, nunca deixamos que percebam que estamos tentando excluir qualquer outra pessoa que queria “roubar” a atenção daqueles que nos são queridos. Aliás, digo mais: nós não lutamos para não perder a atenção daqueles que nos são queridos. Se algum amigo está conversando conosco e, de repente, outra pessoa começa a conversar com ele, nós, simplesmente pensamos “Deixa para lá” e ficamos assistindo, com aperto no coração, nosso amigo “se divertindo” com outra pessoa. E nada fazemos para reconquistar a atenção do outro.
No dia do brinquedo, quando as crianças tinham que levar brinquedos para a escola e brincar com os mesmos e dividi-los com os colegas, essa menina não queria brincar com seu brinquedo e nem com o dos outros. Ela queria brincar comigo. Como eu deliberadamente não brinquei com ela e repeti várias vezes que o momento era para ela brincar com seu brinquedo e com os colegas e “larguei-a” de lado e fui me relacionar com as outras crianças, ela ficou isolada e quieta num canto e, no momento da roda, ela nem queria se juntar a turma. Ou seja, ela se emburrou claramente porque eu não “quis” passar um tempo com ela. Nós, adultos, não nos “emburramos” claramente quando nos sentimos como que deixados de lado (só nos emburramos deliberadamente no caso de relacionamentos amorosos, o que não tem nada a ver com o que estou tratando neste texto. Aqui, a reflexão é sobre amizade).
A partir de toda essa minha observação eu penso: como nós, adultos, nos controlamos, cerceamos nossos sentimentos, para que o outro, de quem gostamos (e aqui eu explico as aspas que usei no verbo “gostar” no início do texto. Neste texto, estou usando gostar no sentido literal da palavra. Não quero tratar de nossas atitudes com relação àqueles que amamos por natureza – familiares, namorado, marido etc – estou falando de amigos, colegas de trabalho, professores, conhecidos da igreja, vizinhos etc, cuja presença simplesmente nos agrada. Simplesmente porque não queremos nada além com essas pessoas, simplesmente queremos elas do jeito que são, porque é o que nos encanta.) não perceba que ficamos incomodados quando ele não nos dá a atenção que queremos!
Como as crianças demonstram seu carinho, nos abraçando, dizendo abertamente “Você sabe que eu te amo?” (a menina em questão e muitas outras crianças da turma já me disseram isso várias vezes), enquanto nós, adultos, com receio de parecermos ridículos ou por sermos socialmente engessados por sabermos que o outro pode entender uma demonstração de afeto como algo no sentido de interesse sexual, deixamos de dizer um “Poxa! Como é bom conversar com você. Como você fala de assuntos que me interessam” ou ainda “Como você é coerente e inspirador nos comentários que você faz”, ou “Como eu gosto do seu estilo de roupas” ou “Como me encanta seu jeito de falar”. Resumindo, às vezes a nossa vontade, ou pelos a minha, é de dizer “Você é um baita de um ser humano. Graças a Deus que você existe e como é bom que você exista exatamente do jeito que você é e como eu sou grato por poder conviver com você”. Mas quem disse que a gente tem coragem de dizer uma coisa dessas?
Além da nossa incapacidade de permitirmos que o outro saiba o quanto ele é maravilhoso para nós, ainda temos essa mania de mascarar nossa tristeza, ou nosso incômodo, ou até revolta, quando as pessoas de quem gostamos negligenciam a nossa amizade ou mesmo a nossa existência (risos).
Eu, particularmente, fico de imediato triste e, depois, com certo nível de raiva, quando pessoas de quem eu gosto/admiro, não respondem o meu “Bom dia/Boa tarde/Boa noite” quando chego à algum lugar onde a pessoa está juntamente com outros. Também me entristeço quando essas pessoas simplesmente passam por mim sem dizer nada. Mas, quem disse que somos humanos o suficiente para chegar até a pessoa e puxar papo? Preferimos deixar a oportunidade de estarmos com o outro pelo simples fato de sermos adultos e acharmos que é idiotice buscar nos relacionarmos com o outro.
Tendo dito tudo, retomo o título deste texto: em que momento deixamos de demonstrar afeto? Em que idade desenvolvemos essa noção ridícula de que não podemos ficar abraçando e demonstrando afeto para com as pessoas que não são nossos parentes ou cônjuge? Em que momento passamos a acreditar que é praticamente uma imoralidade querer estar junto de quem gostamos o tempo todo? Em que momento da vida nos apropriamos desse senso comum de que demonstrar estar chateado ou ficar emburrado porque alguém simplesmente não nos deu a atenção que gostaríamos é ridículo? Certamente deve haver alguma explicação na área da psicologia ou sociologia sobre a idade exata em que a demonstração dos nossos sentimos passa a ser controlada e não espontânea como nas crianças.

Ridículo é o fato de que vivemos um dia após o outro, caminhando em direção à morte e vendo aqueles que nos são queridos caminhar em direção a ela também, e deixamos passar a oportunidade de fazermos com que eles saibam em vida o quando nos são queridos e quão maravilhosos são.

Luciana Estarepravo da Silva

Possui licenciatura plena em Letras (Português/Inglês), é especialista em Docência da Língua Inglesa e estudante de Pedagogia

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Como escolher a melhor escola de idiomas?



            Se você já decidiu que quer fazer um curso de idiomas ou quer comprar um para alguém (filhos, cônjuge, afilhados), tenha em mente os aspectos abaixo, os quais vão te auxiliar a tomar a melhor decisão. (Se você está pensando em matricular seu filho num curso de inglês, não deixe de ler o meu texto Quando matricular meu filho num curso de inglês?)
            Fui professora de inglês em escolas de idiomas por mais de nove anos, tendo trabalhado em três escolas diferentes, sendo as três franquias de redes famosas, com isso, este texto fornece uma visão de alguém que conhece “o outro lado” daquilo que é vendido, no caso, o curso de idiomas.

            O que devo levar em conta quando eu for comprar um curso de idiomas numa escola de idiomas?

1)  Objetivo do curso

Primeiramente, você deve saber o porquê de querer comprar um curso. Isso influencia o tipo de curso que você vai comprar. Os objetivos mais comuns são:
·       Quero fazer um curso de idiomas porque um dia talvez eu precise dele ou porque acho importante ter um curso de idiomas no meu currículo – Nesse caso, a melhor modalidade de curso para você é o regular, aquele com aula duas vezes por semana, de uma hora ou uma hora e quinze cada, ou aulas uma vez por semana, de duas horas ou duas e meia (eu sempre recomendo a modalidade regular com aulas duas vezes por semana, de uma hora ou uma hora e quinze cada).
·         Já falo o idioma, mas quero relembrar, pois não pratico há muito tempo – Nesse caso, quando você estiver falando com o vendedor de cursos, mencione que você já estudou o idioma e peça para fazer um teste de nível (geralmente é uma prova escrita – que pode ser no papel ou online - e, dependendo do resultado, você faz uma segunda prova, que é oral). As escolas de idiomas não cobram nada para aplicar um teste de nível, mas nem sempre elas te oferecem a opção de fazê-lo. Por isso, é importante mencionar que você já tem conhecimento do idioma, assim, você faz o teste e consegue saber em que nível do curso oferecido naquela escola você deve ingressar. Não há necessidade de começar do básico se você já tem bastante conhecimento. Por mais que muitas pessoas interessadas em relembrar aquilo que já sabem acham que é bom recomeçar o curso do básico, posso garantir pela experiência que tenho que isso não é uma boa ideia, nem para você, nem para a escola de idiomas, nem para o professor e nem para seus colegas de turma. Se você já tiver bastante conhecimento e decidir recomeçar o curso do básico, você logo perderá a motivação, assim que perceber que está revendo uma série de coisas que você já sabe, num ritmo lento, afinal, seus colegas de turma são iniciantes e você também perceberá que quando você tenta puxar um papo mais avançado com o professor, por exemplo, ele parece te evitar, pois essa é a nossa reação natural, enquanto professores, porque um aluno “fora de nível” numa turma iniciante desmotiva os demais alunos que estão partindo do zero, visto que eles não entendem nada que o “sabichão” está dizendo. Além disso, esses colegas acham que o professor está dando mais atenção para o “sabichão” porque ele já sabe falar inglês. E tem mais: alunos “fora de nível” fazem perguntas sobre assuntos que a turma nem estudou ainda, o que além de atrapalhar a aula, porque consome tempo com o professor tendo que explicar algo que ainda será estudado ao longo do curso, confunde mais ainda a cabeça dos iniciantes, que por vezes estão se esforçando para entender conceitos mais simples. Isso tudo é ruim para a escola de idiomas também porque, no final das contas, ou ela vai perder você, que insistiu em começar numa turma que estava muito abaixo do seu nível e, depois de umas aulas, se desmotivou, ou a escola vai perder os outros alunos da turma, que vão sair da escola porque acham as aulas muito complicadas devido a sua indesejada presença. Com isso, pela minha experiência e pelo bem dos meus colegas professores de escolas de idiomas, eu te peço: faça o teste de nível e ingresse na turma adequada!
·         Preciso do idioma para meu trabalho – Nesse caso, o curso que você vai fazer depende muito. Se você está na empresa e ela está te cobrando o idioma geral hoje para que você permaneça nela ou mude de cargo, a melhor opção são os cursos intensivos. Eles acontecem nas férias, com aulas todos os dias, de duas horas para mais por dia, ou acontecem o ano todo, com aulas todos os dias, ou mais que duas vezes por semana. Já dei esse tipo de curso e, sinceramente, só indico essa opção se seu emprego realmente depender de falar o idioma logo. Já mencionei no texto e repito: por experiência própria, a melhor maneira de se aprender um idioma é fazendo o curso regular, duas vezes por semana, com aulas de uma hora ou uma hora e quinze cada e, no caso do inglês, se você começar o curso nessa modalidade numa idade a partir de 12 anos e não repetir nenhum módulo, você terá concluído o curso em cinco anos. É isso mesmo! Curso de idiomas, principalmente de inglês, é um investimento de longo prazo! Esses cursos intensivos, sinceramente, não te ajudam a fixar a língua tão bem em sua memória como os cursos regulares por uma simples razão fisiológica. Não vou entrar em aspectos cognitivos nesse texto, mas acredite: cientificamente há argumentos que provam que aprender um idioma num curso regular é mais eficaz do que aprender num curso intensivo. Portanto, se a promoção ou a oportunidade de viagem ao exterior puderem esperar um pouco, faça o curso regular, lembrando que você não precisa esperar terminar o curso após cinco anos, no caso do inglês, para aí dizer que consegue se comunicar no idioma. No caso do inglês, se você fizer um curso regular, ao final do segundo ano, você já terá conhecimentos suficientes para conversar bem em inglês e inclusive fazer uma viagem ao exterior com tranquilidade. A maioria das escolas de idiomas oferece a modalidade bussiness English, ou seja, inglês para negócios. Esse curso é voltado para quem trabalha em empresas, já fala inglês e precisa aprender termos técnicos. É uma opção para aprimorar o conhecimento que você já tem e ganhar conhecimento no seu ramo. Em geral, as aulas dessa modalidade de curso não são tão divertidas se comparadas ao curso regular, pois o assunto é negócios. Em geral, o professor não domina o assunto, visto que ele domina a língua, não o ramo negócios. Com isso, o sucesso do curso depende muito dos alunos partilharem suas experiências em sala. Já vi escolas de idiomas que oferecerem cursos de inglês bem específicos: inglês para profissionais da área do turismo, inglês para profissionais da área do petróleo e gás, inglês para taxistas etc. Esses cursos tendem a ser mais curtos que um curso regular, mas também ensinam o aluno a se comunicar somente num contexto específico, logo, se você for um taxista, por exemplo, e seu cliente te fizer uma pergunta fora do roteiro, você ficará numa situação desconfortável. Por isso, volto a insistir. Faça o curso regular! Faça o curso regular primeiro e, depois, faça esse curso mais voltado para seu ramo de atuação.
·         Preciso me preparar para prestar um exame de proficiência – O número de pessoas que busca escolas de idiomas para se preparar para o TOEFL, IELTS e outros exames vem crescendo graças a ampliação das oportunidades de cursar parte da graduação ou pós-graduação no exterior, fato que advém das parcerias estabelecidas pelo governo com outros países ou mesmo parcerias entre universidades brasileiras e estrangeiras. Há cursos preparatórios, mas não cheguei a ver turmas com muitos alunos nessas modalidades, pelo menos não nas escolas onde trabalhei. Vi alunos fazendo o curso na modalidade aula particular. Se você tiver disciplina para estudar sozinho, vale a pena comprar materiais didáticos preparatórios e estudar por conta, mas só se você domina o idioma. Se não domina, aí sugiro procurar uma escola de idiomas e verificar o curso preparatório, pois além de você aprender as técnicas para prestar bem o exame e ter acesso a simulados, o professor vai identificar seus pontos fracos e te ajudar a superá-los.

 2) Localização da escola

Escolha um local que seja de fácil acesso para você. Imagine só você trabalhar o dia inteiro e, no final do dia, ter que enfrentar um tráfego intenso para chegar à escola. Logo você perderá a motivação e trancará o curso e não queremos que isso aconteça! Além da questão do tempo no caminho, é importante você saber que não adianta chegar cinco minutos atrasado toda aula. Aula em escola de idiomas segue uma estrutura determinada pelo método/metodologia usado pela escola e cada minuto é preparado pelo professor. Em geral, de cinco a oito minutos iniciais da aula são usados para o warm-up. Não vou entrar em detalhes do que seja, mas se você perde esse momento, você se atrapalha e atrapalha a sua turma. Se for com transporte próprio, verifique o quanto vai gastar com estacionamento ou quanto tempo vai gastar procurando uma vaga onde parar.

 3)  Infraestrutura da escola

É importante que a pessoa que vai te passar as informações sobre o curso também te apresente a escola. Nesse momento, verifique se a instituição possui estacionamento próprio ou convênio com algum estacionamento. Há pessoas que pensam somente no valor da mensalidade e não se dão conta que, às vezes, o curso vai acabar saindo mais caro devido ao preço do estacionamento ou da zona azul. Verifique se as salas de aula contam com carteiras confortáveis, ar condicionado e lousa branca (porque já passou a era do giz, né?). Parece frescura, mas imagine ficar uma hora sentado numa carteira desconfortável depois de trabalhar um dia inteiro ou num dia em que você está com cólica? E aguentar o calor do verão sem ar condicionado ou com um ventilador na sua cara? Pior é a lousa de giz, atacando sua rinite e deixando a roupa branca! Verifique também se a escola possui lousa interativa (uma espécie de lousa que usa um software que torna o aprendizado mais dinâmico), TV/computador/projetor de slides na sala de aula, laboratório de informática, biblioteca e sala de estudos, pois esses recursos diversificam as aulas. É bom questionar com que frequência os professores utilizam esses recursos, porque não adianta a escola possuí-los, se não os utiliza. Verifique se a sala de espera é confortável (com TV, revistas, música e wi-fi) para você aguardar o início das aulas; se os banheiros são bem cuidados, se há bebedouro, cafezinho... Caso você vá comprar um curso para uma criança, é interessante verificar se a escola possui uma sala ambiente para crianças, com carteiras do tamanho adequado, brinquedos e decoração adequada à faixa etária, pois isso estimula o aprendizado.

 4) Valor do curso

É importante saber qual é o valor da mensalidade, se há desconto para pagamentos efetuados até determinada data no mês, se há desconto por nota (há escolas de idiomas             que oferecem isso como forma de incentivar os alunos a se destacarem), mas muita gente pensa só no hoje, ou seja, se a mensalidade irá caber no seu bolso hoje. Essa maneira de pensar pode te dar problemas a médio prazo! Por isso, não deixe de questionar como funciona o reajuste de mensalidade (quando é e como é): se é no começo do ano, se é quando você muda de módulo/nível, se é quando o contrato é renovado, se há uma porcentagem fixa de aumento ou se o aumento segue algum índice. Muita gente desiste do curso depois de um ano porque não estava preparado para o aumento. Pense nisso antes de fechar o contrato, para não começar um curso e ter que parar no meio do caminho.

 5) Material didático

Não é só o valor da mensalidade que vai mexer com o seu bolso. Há também o valor do material didático. Verifique com que frequência você terá que adquirir um novo material didático: semestralmente, a cada oito meses, anualmente... Verifique também qual é a forma de pagamento (à vista, se aceita cheque ou cartão de crédito, se há desconto). Às vezes, a mensalidade é barata, mas o valor mensal acaba saindo caro devido às parcelas do material didático. Há alunos que desistem do curso quando mudam de estágio/módulo/nível, porque não se programaram para comprar o material didático. Além do valor, atente-se para itens extras desnecessários. Em geral, o material didático é composto pelo livro didático e o CD de áudio. Há escolas que vendem alguns itens extras que não convém mencionar aqui, mas que fazem exatamente o que o CD de áudio consegue fazer. Seria um gasto desnecessário, embora possam ser itens úteis e mais práticos que o CD, por exemplo. Não se encante com itens extras, porque quando você vai pesquisar um curso de idiomas, está animado a estudar tudo quanto é material que te é oferecido e acha que vai desfrutar de todas as aulas extras gratuitas que a escola oferece, acha que vai ler os livros da biblioteca da escola, acha que vai fazer todos os exercícios do portal online, mas, com minha experiência de professora, eu te garanto, quando o curso começar, é provável que você atrase ou deixe de entrar até as tarefas obrigatórias. No final das contas, é bem pequeno número de alunos que nos cinco anos de curso, no caso do inglês, desfrutam mais de cinco vezes de algum recurso extra oferecido pela escola.

 6) Cláusulas contratuais

Esperamos que você não desista do curso de idiomas no meio do caminho, mas e se você ficar desempregado e precisar trancar o curso? Verifique no contrato qual é a multa por desistência. Às vezes, compensa terminar o curso ou o módulo porque o valor da multa acaba sendo maior que o total das mensalidades restantes. Também verifique qual é a multa por atraso no pagamento das mensalidades. Muita gente se esquece de pagar a mensalidade do curso de idiomas porque não é algo tão “vital”, quanto aluguel, água, luz e internet. Também verifique a cláusula sobre o número mínimo de alunos por turma ou garantia de turma no nível que você vai cursar. É comum você começar o curso básico 1 numa turma de doze alunos. Ao final do básico 1, dessa turma de doze alunos, um aluno reprova e vai para outra turma de básico 1, outro aluno muda de horário devido ao trabalho, outro aluno muda de horário devido à escola regular, outro tranca o curso e, no final, a escola alega que não há o número mínimo de alunos para manter a turma. Aí, a escola te oferece outro horário de aula, mas nem sempre esse horário é bom para você. Por isso, verifique bem essa cláusula do contrato.

 7) Formação dos professores

Perguntar sobre a formação dos professores pode colocar o vendedor do curso numa saia bem justa. Pode até ser que ele chame o coordenador da escola para responder essa pergunta. Não entre na onda de escolas que dizem “todos os nossos professores são falantes nativos”. Não adianta o professor ser americano, por exemplo, se ele não tem didática, ou seja, se ele não sabe como ensinar o idioma. Infelizmente, muitas escolas de inglês contratam como professores pessoas que simplesmente falam inglês e não têm formação na área de ensino de línguas. Trabalhei com professores em escolas de idiomas que eram excelentes professores, mesmo sem ter um curso de Letras ou Pedagogia, mas esse tipo de professor não pode ser a maioria do corpo docente da escola. É importante que a escola conte com professores formados em Letras, ou Pedagogia, ou que possuam certificados internacionais que atestem seus conhecimentos na língua e em didática. Verifique se a escola possui um orientador/coordenador pedagógico que periodicamente avalia a qualidade das aulas. Repito: conheci professores de idiomas excelentes e que não tinham formação na área do ensino, mas isso não pode ser a maioria do quadro de professores de uma escola, afinal, se for para aprender inglês com um professor simplesmente porque ele fala inglês, dá para fazer isso sozinho com vídeos encontrados na internet.


Espero que esses aspectos te auxiliem ao escolher um curso de idiomas em uma escola de idiomas. Qualquer dúvida, sinta-se à vontade para perguntar nos comentário abaixo.

Luciana Estarepravo da Silva
Professora de inglês desde 2007, formada em Letras (Português/Inglês) e 
especialista em Docência da Língua Inglesa