Primeiramente, se você chegou até aqui, leia
este texto até o final. Não lhe digo isso apenas porque fui eu quem o escrevi
e, por isso, obviamente, é meu interesse que você o leia. Também lhe digo isso
porque nada é por acaso e, portanto, não é por acaso que você deu de encontro
com esse texto. Talvez você chegue a um parágrafo que fale sobre crenças das
quais você não partilha. Ainda assim lhe digo: leia até o final! Você lerá
sobre outras crenças que talvez sejam as suas, ou aprenderá algo novo ou ainda
poderá, unindo todas essas informações, criar um conceito só seu.
Todo texto tem uma motivação. Às vezes, passo
os olhos pelos textos antigos deste blog e fico pensando “O que me levou a
escrever este texto?”. Outras vezes, me lembro qual foi o motivador sem
dificuldades. Hoje, tive muita vontade de incluir no próximo parágrafo a
história do que aconteceu nesta semana e que me levou a escrever esse texto,
mas acho que vou deixar de lado a minha vontade de me lembrar o motivo no
futuro e vou priorizar a curiosidade que levou você leitor a chegar até aqui.
Passei um período da minha vida frequentando
um lugar ao qual eu chegada, dava “Boa tarde” e as pessoas ali não me
respondiam. Isso não ocorreu um dia ou só com uma pessoa dali. Acontecia
praticamente todos os dias e eu era ignorada por mais de uma pessoa!
Não ter meu “Boa tarde” correspondido me
fazia sentir sufocada. Na época, achava que era aquele ambiente que me
sufocava; hoje, depois das vivências que a vida proporciona e um maior grau de
autoconhecimento que vem com essas vivências, prefiro achar que o que me
sufocava era a quantidade de luz e boa energia que queria emanar de mim para os
outros e ali não encontrava alvos para recebê-la e minha crença insistente, na
época, que essa energia tinha que encontrar pontos de conexão ali, naquele
lugar.
Acredito sim que aprendemos com absolutamente
tudo na vida. Não foi diferente com esse período que acabei de descrever. Se
não fosse ele, talvez, esse texto não ficasse tão rico assim. Além do mais,
havia mais alguém sentindo o mesmo que eu naquele lugar e, hoje, a pessoa faz
parte do meu círculo de contatos frequentes e fico feliz por isso.
Tenho o costume de ficar na porta da sala de
aula cumprimentando os alunos que chegam. Fico impressionada, neste ano letivo,
com o número de alunos que passa por mim e nem olha na minha cara e muito menos
responde o meu “Good morning!” (bom dia). É claro que fico chateada com a
situação não só por ser naturalmente uma pessoa que tende a “pegar mal” com
pequenas coisas (amigos que estão lendo este texto: posso parecer desligada,
insensível e “de boa”, mas “pego mal” com pequenas coisas, muito embora eu não
fale ou demonstre), mas também por ser professora e, como tal, achar que
educação é o mínimo que as pessoas têm que ter umas com as outras para a
sociedade poder ser um lugar agradável.
Contudo, depois das experiências que vivi até
hoje, os textos que li, as culturas que conheci e as pessoas que encontrei,
gosto de imaginar, de forma figurada, que de algum lugar é possível olhar para
o mundo e enxergá-lo como um pano de fundo azul escuro e, as pessoas, como
pequenos pontinhos de luz. Quando elas conseguem se conectar umas às outras,
seria possível, nessa minha imagem figurada, ver caminhos de luz.
Hoje penso assim porque na minha religião
(católica), comemoramos o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro porque
antigamente, nesse mesmo dia, era celebrada uma festa pagã em comemoração ao
deus Sol. Para substituir esse costume, a Igreja Católica determinou que se
celebrasse o nascimento de Cristo nessa data, porque acreditamos que Jesus é o
nosso Sol, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, livro importante para
nós, depois da Bíblia:
“A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar todos os homens com a sua luz que resplandece no rosto da Igreja, anunciando o Evangelho a toda a criatura» (120). É com estas palavras que começa a «Constituição Dogmática sobre a Igreja» do II Concilio do Vaticano. Desse modo, o Concílio mostra que o artigo de fé sobre a Igreja depende inteiramente dos artigos relativos a Jesus Cristo. A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo. Ela é, segundo uma imagem cara aos Padres da Igreja, comparável à lua, cuja luz é toda reflexo da do sol”. (Catecismo da Igreja Católica, 748).
Um pequeno parênteses: historiadores apontam
o nascimento de Cristo em outro mês do ano e a Igreja compartilha dessa ideia
(embora muitos achem que não, mas a Igreja Católica leva e muito em
consideração o conhecimento científico e, é com base nele, que boa parte de
nossa tradição está consolidada), mas acreditando ser Jesus a sua luz, a Igreja
buscou ofuscar a festa pagã colocando o Natal aí.
Bem, se Jesus é nossa luz, e parecemos
brilhar como a Lua, astro que não tem luz própria, também podemos iluminar a
noite, que pode ser o mundo, assim como o faz a Lua.
Ainda explicando um pouco a minha imagem figurada, na
Bíblia está escrito: “Em toda casa em que entrardes, dizei
primeiro: Paz a esta casa! Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre
ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós”. (Lc 10, 5-6)
Assim, acho que quando eu chegava
naquele lugar e dava um “Boa tarde!”, que é uma forma mais atual de desejar a
paz à alguém, e eu não era respondida, esse “Boa tarde” voltava para mim. Mas
meu desejo de partilhar esse bom sentimento continuava ali, em mim, querendo
encontrar alguém que o acolhesse.
Dessa forma, temos em nós uma luz que
vem de Deus e naturalmente queremos iluminar os outros, mas se essa luz não
encontra um ponto de conexão que queira ser iluminado, ela continua emanando da
sua fonte, assim como na noite é possível ver a luz de um farol à beira mar
criando um feixe de luz no céu.
Alguns amigos espíritas já me disseram
(perdoem-me os espíritas se eu estiver dizendo algo que não condiz com a sua
forma de entender o mundo) que eles também acreditam que as pessoas são seres
que a cada vida buscam desempenhar melhor a sua missão para ser, um dia,
completamente, seres de luz. Vê-se aí um exemplo claro de como religiões,
filosofias e crenças têm muita coisa em comum e cabe a nós vermos a beleza que
é a grande conexão que há em tudo nesse mundo, ao invés de ficar destacando as
diferenças.
Tendo dito tudo isso eu quero dizer
que mesmo que você tente estabelecer conexões de luz com outras pessoas,
cumprimentando, ou sendo gentil, ou tentando ajudar com um conselho ou sei lá
de que forma e as pessoas não acolham o que de bom você tem a partilhar, o que
há de bom em você continua emanando para o mundo, abrindo um caminho como que
de luz que, na minha opinião, vai te levar até outra pessoa ou vai fazer outra
pessoa percorrer esse caminho de luz até chegar a você.
Para exemplificar, volto ao meu
exemplo do “Bom dia!” não correspondido por muitos de meus alunos. Apesar desse
meu hábito educado parecer para mim, a princípio, não estar atingindo ninguém,
incrivelmente, uns alunos da escola que não são meus alunos, têm vindo a minha
sala conversar comigo sem, aparentemente, motivo algum. Gosto de pensar que a
minha luz chegou neles de alguma forma e eles decidiram percorrer esse caminho
iluminado para encontrar de onde vinha a luz. Também colegas de trabalho que eu
achava que nem estavam muito atentos a minha presença ali já me chamaram no
cantinho para dizer que veem coisas boas que eu faço e que ficam felizes por
isso. Outros também já chamaram no cantinho para dar um abraço e perguntar se
estava tudo bem, quando de fato não estava, e eu nem imaginava que a pessoa
prestasse atenção na minha existência ali e muito menos que alguém ali podia
notar o que passava no meu interior. Para mim, essas pessoas são seres abertos
a receber a luz que vem dos outros e, por isso, conseguem estabelecer essas conexões
do bem.
Sendo assim, por fim, ressalto: seja
bom, deseje o bem, seja educado, diga e faça o bem para o outro. Sei que
chateia muito ser ignorado, principalmente por alguém que você achava que era
seu amigo, mas o bem que é a luz que está em você vai criar caminhos iluminados
no mundo e alguém vai encontrar esse caminho até você e, lá daquele ponto
imaginário que minha imagem figurativa descreve, alguém vai ver uma luz muito
forte brilhando entre duas pessoas e o mundo vai parecer mais lindo e
iluminado. Alguém, na verdade, muitos alguéns, estão esperando encontrar essa
luz que vem de você.
Um abraço de luz!
Luciana Estarepravo da Silva
Formada em Letras (Português/Inglês), especialista em Docência da Língua Inglesa, cursando Pedagogia.
Como sempre inspirador. Já estive pensando sobre isso e invariavelmente terminava por concluir que se tratava de pura falta de educação ou ainda a maneira como alguns infelizmente lidam com seus próprios sentimentos de frustração. Que Deus nos ajude a viver de forma harmonica.
ResponderExcluirOi, Andréia! Que bom te ver por aqui! Quando eu tentava ficar procurando uma explicação que justificasse a atitude dessas pessoas, também cheguei a mesma conclusão que você: ou era falta de educação ou questões pessoais mal resolvidas. Às vezes, é difícil, mas apesar desse tipo de coisa ao nosso redor, temos sim que continuar insistindo em ser e irradiar luz. :*
ExcluirComo sempre inspirador. Sempre que refletia a cerca desse tipo de situação invariavelmente terminava por concluir que se tratava de pura falta de educação ou ainda simplesmente ser a maneira de alguns lidarem com suas próprias frustrações. Que Deus nos ajude a viver harmonicamente.
ResponderExcluirParabéns, Luciana.
ResponderExcluirGostei muito do seu texto. Sinto-me até mais confortado. Quantas não foram e são as vezes em que usamos o pouco tempo livre que temos para preparar uma aula mais interessante para os alunos e muitos deles simplesmente ignoram nossa presença. Entretanto, com o passar do tempo, alguns vão mudando e se aproximando, outros ainda pouco receptivos vão dando pequenas aberturas para que possamos colaborar na construção do conhecimento deles. Se por um lado, entristece-nos pensar que nos ignoram, por outro, aprendemos a ser mais fortes e buscar novos conhecimentos e ferramentas para nos fazermos mais presentes e uteis. Acho que no final das contas, sempre saindo ganhando, seja porque contribuímos com algo na formação deles, ou porque nos fortalecemos com a experiência.
Daniel! Que honra ter uma pessoa tal estudada escrevendo por aqui! Que bom que você se sentiu confortado. A cada dia que eu passo trabalhando na educação percebo mais que o que os colegas de profissão compartilham conosco às vezes são aquele fiozinho que faz a gente aguentar muita coisa. Concordo com você! Investimos muito tempo e conhecimento para fazer um bom trabalho e isso, muitas vezes, não tem retorno por parte dos alunos. Mas, no final, creio que saímos com saldo positivo por termos tentado e também por termos feito bem o que nos compete.
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