quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Comentários sobre o livro “Vou lhe mostrar o medo”



O segundo livro que terminei de ler em 2014 foi Vou lhe mostrar o medo: O mistério de Edgar Allan Poe, do norueguês Nikolaj Frobenius.

Se você gosta de histórias de terror e literatura inglesa, esse livro é para você.

Dos romances publicados recentemente que eu conheço, seja por ter lido, seja por ouvir os comentários de outrem, eu diria que essa obra merece, sem dúvida, um espaço nas aulas de literatura inglesa do curso de Letras.

Como o próprio título do livro já mostra, o personagem principal é Edgar Allan Poe. Edgar Allan Poe é um sujeito que realmente existiu e é nada mais, nada menos, que um dos maiores autores da literatura inglesa de todos os tempos. Sua obra tem conteúdo macabro, o que muitos críticos literários afirmam ser reflexo dos episódios tristes da vida de Poe.

O romance Vou lhe mostrar o medo mistura fatos e ficção. A obra se inicia descrevendo os pais biológicos de Poe; ambos eram atores no teatro, contudo, a mãe de Poe era talentosa, muito diferentemente do pai de Poe.

Eram muito pobres e o pequeno Poe cresceu naquele ambiente e logo se viu órfão e foi doado a uma família de posses.

Todavia, seu pai adotivo não o valorizava e muito menos valorizava sua obra literária.

Foi na enorme residência de seus pais biológicos que Poe conheceu Samuel, um ser humano com características físicas horripilantes, mas que, na casa, era o único que valorizava as obras de Poe, embora não soubesse ler.

Poe o ensinou a ler e passava grande parte do tempo com ele. Isso fez com que Samuel desenvolvesse um fascínio doentio por Poe e por sua obra. Dizia que Poe era um profeta, afirmação essa que o escritor não entendia, visto que todas as suas histórias se tratavam de crimes cruéis.

No intuito de se livrar daquela vida frustrada na casa dos pais adotivos, Poe se desentende com o pai e deixa a casa, em busca de seu sonho de se tornar um grande escritor.

Nesse meio tempo, Poe se casa com a frágil prima Sissy, que mais tarde virá a falecer.

Contudo, ao lado de Sissy, Poe tentou várias vezes se tornar um escritor famoso. Trabalhou em jornais, participava de saraus... Tudo com muita dificuldade, chegando até a passar necessidades.

Além de ter que enfrentar as dificuldades naturais provenientes do estilo de vida de quem está começando a se lançar no mundo como escritor, mas sem ter outra profissão, Poe teve seu sucesso ameaçado constantemente por Rufus Griswold.

Rufus era um crítico literário, ex-pastor, que ao ter contato com as obras de Poe, simplesmente passou a dedicar toda a sua vida em estudar seus textos, porque achava que Poe tinha algo mal em sua essência.

Como se não bastasse a perseguição de Rufus, Samuel passou a concretizar aquilo que no início da obra ele chamava de profecia.

Sem dúvida, os momentos de mais tensão ao longo da leitura da obra são as Cartas ao Patrão, escritas por Samuel. Ao ler cada palavra, o leitor se sente como se estivesse assistindo a um filme de suspense: o que será que há na próxima palavra?

Bebida e mulheres também fazem parte dos maus que cercavam Poe.

Para quem se interessa pela obra de Edgar Allan Poe, Vou lhe mostrar o medo é um ótimo local para encontrar reunidos contos de autoria de Poe e fatos sobre a vida do autor.

Recomendo a leitura do livro e também o filme O Corvo, título baseado no famoso poema de Poe com o mesmo nome. Esse poema também é mencionado ao longo de Vou lhe mostrar o medo.



Referências



FROBENIUS, Nikolaj. Vou lhe mostrar o medo: O mistério de Edgar Allan Poe. São Paulo: Geração Editorial, 2012.


Luciana Estarepravo da Silva
Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Consumismo infantil




Ao ouvirmos a palavra consumismo logo nos vem uma ideia negativa, pensamos em uma atitude excessiva, algo como um vício. Todavia, ao vermos essa palavra acompanhada do adjetivo infantil percebemos que se trata de algo pior ainda.

Segundo o dicionário Michaelis online, consumismo é a “Situação própria de países altamente industrializados, caracterizada pela produção e consumo ilimitados de bens duráveis, sobretudo artigos supérfluos.” (cf. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=consumismo)

Infantil é tudo aquilo que está relacionado à criança, lembrando que de acordo com o segundo artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente é considerada criança a pessoa até os doze anos de idade incompletos. (cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm)

Bem, o § 23 do sétimo artigo da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 determina que as pessoas podem começar a trabalhar, na condição de aprendiz, aos quatorze anos de idade (cf. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm). Sendo assim, podemos afirmar que as crianças não trabalham e, consequentemente, não possuem renda própria.

O dinheiro que as crianças manipulam provém de outras pessoas, provavelmente daqueles que são responsáveis por elas.

Já que consumo implica renda, entende-se que o consumismo infantil está, acima de tudo, relacionado aos responsáveis pelas crianças.

O consumismo, como a própria definição do dicionário citado nos esclarece, leva as pessoas adquirirem bens supérfluos.

A criança já começa a adquirir o hábito de comprar o supérfluo no ventre materno. A criança ainda nem nasceu, sequer entende a função das coisas que existem no mundo e já possui uma infinidade de coisas que os responsáveis adquirem para decorar o quarto. Isso não significa que é ruim decorar o quarto de um bebê; isso não é ruim quando os responsáveis têm dinheiro de sobra. Contudo, se é uma família que ainda não possui certos bens mais essenciais, como casa própria e automóvel, decorar o quarto para o bebê cai no que chamamos de consumismo.

Além da decoração do quarto, há o estímulo ao consumismo proveniente do chá de bebê. Mulheres que não possuem nenhuma responsabilidade em relação à criação do bebê que está por vir se veem intimadas a contribuir para o bem-estar dele.

Aí vêm os presentes, papel de presente, caderno de mensagens, decoração da parede do salão ou da casa com bichinhos e com o nome da criança em EVA (que não é reciclável), lembrancinhas para as convidadas, toalhas descartáveis para a mesa... Veja quanto lixo, no sentido literal da palavra, é produzido em função de uma criança que nem entende do que se trata tudo isso. Para que serve uma lembrancinha de chá de bebê ou de visita ao recém-nascido? Para que serve isso? O que você vai fazer com uma lembrancinha de chá de bebê ou nascimento na sua casa? Colocar na estante da sala? Será um enfeite? De enfeite em enfeite as casas das pessoas se tornam depósitos de lixo (lembrando que lixo é aquilo que não serve para nada).

Obviamente, isso não significa que não seja bom fazer chá de bebê. Os responsáveis pela criança irão obter muitas coisas úteis com presentes, mas, considerando que as pessoas que vão ao chá de bebê são as mesmas que visitam o recém-nascido em sua casa, verifica-se que essas pessoas poderiam levar seus presentes na visita ao recém-nascido. Dessa forma, os responsáveis pelo bebê não gastariam o que se desperdiça para promover um chá de bebê. Todavia, reitero que para quem tem dinheiro sobrando, não é uma má ideia.

Quando nasce o bebê, os responsáveis têm a brilhante ideia de fazer uma festa de um ano de idade. Sabe o que esse bebê vai se lembrar dessa festa? Nada! Aí está mais um exemplo de dinheiro que poderia ser poupado para quando essa criança estiver na adolescência e tiver seus gostos próprios e voz própria para dizer como quer que sua festa de quinze ou dezoito anos seja.

Geralmente, quem faz a festa de um ano de idade num buffet infantil se sente na obrigação de repetir o feito todos os anos. Se os responsáveis pelo bebê gastam R$ 2.400,00 na festa de um ano de idade e repetem esse gasto anualmente, até os onze anos de idade da criança em questão, eles terão gasto R$ 26.400,00. Esse dinheiro poderia ser empregado na quitação do financiamento da moradia, na compra de um carro 0 km, ou poderia ser depositado numa poupança (o que renderia juros) e, posteriormente, poderia pagar boa parte de um curso superior para essa criança.

Novamente digo que para quem tem dinheiro sobrando, fazer a festa de uma criança que nem sabe dizer a palavra festa não é problema.

Pessoalmente, me sinto em uma saia justa quando sou convidada para festas de aniversário de crianças, porque geralmente a criança já teve festa no ano anterior e possui pais e avós que costumam dar presentes em três datas do ano: aniversário, Dia das Crianças e Natal. Desse jeito, como diz minha mãe, fica difícil dar alguma coisa de presente, pois a criança já possui tudo. Além do mais, quando você frequenta a casa da criança e vê os tipos de brinquedo que ela já tem (com recursos eletrônicos ou muito grandes), fica-se com vergonha de presentear o que quer que seja, pois essas coisas que a criança já tem em casa custaram, sem dúvida, mais de R$ 100,00 e eu não gostaria de gastar mais que esse valor em algo que será para uma pessoa que nem é tão próxima a mim, que ainda não entende o que é amizade (e por isso não relacionará o presente ao sentimento envolvido no ato de presentear) e que, acima de tudo, vai usar aquilo por pouco tempo, visto que as crianças crescem rapidamente e logo largam os brinquedos.

Ainda há a questão de que muitos responsáveis por crianças acham que como responsáveis têm a função social de levar o filho para cada festa de aniversário do colega com uma roupa nova.

Bem, como se pode ver, fazer uma festa para uma criança que ainda vai aprender o que é uma festa é um gasto supérfluo, mas, se você não tem nada mais importante com que gastar seu dinheiro (pagar um convênio médico, se mudar para uma casa maior, cuidar dos dentes, contratar uma empregada doméstica para organizar aquele monte de roupa que seu filho possui), vá em frente.

Não satisfeitos com todos esses gastos, os responsáveis começam a cuidar precocemente da aparência física das crianças. Meninas de seis anos de idade já vão à manicure semanalmente e meninas de nove anos de idade, além de usar esmalte, vão à escola maquiadas! Não tenho vergonha de dizer que até a presente data nunca fiz as unhas na manicure. Isso não é ser pão duro ou pobre, isso é ser inteligente. Para que pagar para alguém fazer algo que eu mesma posso fazer? Só se seu fosse consumista!

Os meninos já aos oito anos de idade fazem penteados com gel!

Para que macular a beleza natural de uma criança, escondendo o que ela herdou de seus pais sob a maquiagem, o gel e o esmalte? Pessoalmente, acho feio ver uma criança usando maquiagem ou gel. Não combina com a idade, fica realmente feio, artificial.

Deixe esses gastos com beleza para quando essa criança estiver na adolescência e, naturalmente, passará a prestar mais atenção ao seu corpo e terá vontade de usar maquiagem para esconder certas características ou para realçar outras. Não antecipe esses gastos. Deixe a criança ser feliz, sem se preocupar com essas coisas.

Saindo do contexto de festas e maquiagem, nos deparamos com o incentivo ao consumismo no ambiente escolar.

Os responsáveis por crianças parecem achar que usar uma mochila, estojo, apontador, régua e tesoura por dois anos seguidos é um crime. A cada ano, compram tudo isso novamente! Usar o que sobrou dos lápis de cor então... nem pensar! Vão achar que a criança é pobre. Usar as folhas que sobraram naquele caderno do ano passado para o curso de inglês, informática ou para a catequese também é um insulto!

Além disso, levam a criança às compras e ela escolhe de que personagem serão seus objetos escolares, enquanto os materiais escolares neutros, ou seja, aqueles que não fazem alusão a nenhum personagem específico e, por isso, não têm o valor referente aos direitos autorais embutidos no produto, custam bem menos.

É claro que é saudável dar à criança um ou outro objeto que a fará ficar contente, como um estojo de seu personagem favorito, mas isso deve acontecer se ela merecer; não deve ser uma rotina. Adultos não têm tudo do jeito que querem, mesmo quando merecem.

Comer os alimentos oferecidos pela escola também parece denunciar que a criança está fora dos padrões sociais. Os responsáveis acham que devem dar dinheiro para a criança comprar um lanche na cantina da escola todos os dias. Se o ano letivo tem 200 dias e os responsáveis dão R$ 1,00 por dia para a criança gastar com alimentação, em um ano R$ 200,0 terá sido gasto com bobeiras (que é o que a cantina geralmente oferece), enquanto a criança poderia ter se alimentado de forma balanceada de graça, comendo o que a escola oferece no refeitório.

É bom dar dinheiro às crianças uma vez ou outra para elas aprenderem como comprar, como calcular o preço, como decidir o que é mais vantajoso, mas isso não deve ser rotina. Se a criança ganha o dinheiro de graça todos os dias, ela vai achar que isso vale para toda a vida.

Esses são apenas alguns exemplos de gastos de poderiam ser adiados ou mesmo evitados.

O problema não reside em fazer esses mimos às crianças, mas no fato de que o dinheiro poderia se melhor aproveitado e a criança poderia aprender, desde cedo, o quanto vale cada centavo.



Luciana Estarepravo da Silva

Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)






sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Comentários sobre o livro "A Arte de ensinar"

O primeiro livro que terminei de ler neste ano, 2014, foi A arte de ensinar, de Jay Parini.
Um colega de trabalho me emprestou em 2013 e logo comecei a lê-lo. A obra é escrita em primeira pessoa e nela Jay Parini conta sua trajetória como professor.
A maior parte do livro é dedicada a descrever o ambiente acadêmico, onde o autor passou a maior parte de sua vida. Ele também retrata as reuniões de professores e alunos universitários nos escritórios ou casas dos professores, reuniões essas nas quais se discutem os textos de autoria dos alunos e como esses textos podem ser melhorados. Além disso, Jay também conta como foi sua experiência como professor em escolas da educação básica e aborda, de forma até que cômica, a relação entre o vestuário e a personalidade dos professores.
Ao descrever as características de bons professores de literatura, a qual é a área de Jay, me recordo de minhas aulas de literatura na faculdade de Letras. O professor de literatura, ao menos o universitário, precisa saber trabalhar as nuanças em sua voz e a sequencia de seu raciocínio expositivo para que possa, de fato, tocar seus alunos no que diz respeito ao texto de que está falando.
 Todavia, melhor ainda é o professor que consegue abordar um texto ou a obra de um autor como um todo desenvolvendo uma aula na qual seus alunos têm a chance de participar, construindo o conhecimento por meio da constante reformulação de ideias provenientes do diálogo entre professor e turma.
Ao longo do livro, o autor menciona muitos autores da literatura inglesa, os quais, sinceramente, não conheço, mas para quem gosta de ler e pesquisar sobre os nomes que aparecem no livro, imagino que essa obra é um prato cheio.
É claro que o autor deixa transparecer um certo, eu diria, amor próprio, ao falar de si e de sua experiência. Na linguagem popular brasileira atual, seria possível dizer que ele “se acha”. 
No entanto, como também professora, eu diria que ele alcançou, em seus mais de trinta anos de professor, aquilo que nós, professores que de fato refletimos sobre nossa prática pedagógica, um bom nível de autoconhecimento. Com o tempo, o professor que realmente busca analisar sua performance no intuito de melhorá-la é capaz de fazer de si mesmo uma imagem como alguém que o observa exteriormente, ou seja, ele é capaz de fazer de si uma imagem que retrata como os outros o vêm. Além disso, com esse exercício constante de reformulação do seu eu, o professor também consegue entender o que passa em seu interior, de que situações provêm suas alegrias, tristezas, preocupações...
O professor que ler esse livro, vai, sem dúvida, se identificar com algumas angústias do autor. Abaixo, algumas citações que me chamaram a atenção, seja por sua verdade universal, seja por serem verdadeiras no que tocam aos meus ex-professores ou colegas de trabalho, seja por serem absurdas no contexto brasileiro:
O que eu desejava era a liberdade de escrever o que quer que desejasse escrever, e quando desejasse escrever. Comecei a me ressentir do tempo que gastava me preparando para dar aulas e fazia tudo o que podia para que essa preparação consumisse menos tempo. (p. 61)
Pois é! Todos os bons professores, aqueles que realmente preparam suas aulas, tentam descobrir a fórmula mágica para gastar menos tempo preparando aulas. Na verdade, ela já existe: métodos engessados com manual do professor anexo ao livro.

“Uma aula é uma performance”. (p. 68)
Professores, naturalmente, se preparam para um show, lembrando que um show não é necessariamente aquilo que traduz o seu verdadeiro eu, mas sim, aquele eu que vai agradar a sua audiência.

“Os alunos adoram quando um professor parece autoconfiante, engraçado, de espírito aberto, ágil. Não gostam de um professor que olha fixa e ansiosamente na direção deles buscando confirmação”. (p. 70)

“Não existe atalho para alguém se tornar um bom professor, se bem que provavelmente ajude ter bons modelos e saber como imitá-los, mantendo, ao mesmo tempo, o sentido da própria integridade e respeitando sua condição de indivíduo único como professor”. (p. 70)
O problema reside naqueles que não são professores e ensinam de forma superficialmente atraente, mas numa análise mais profunda de quem tem o mínimo de conhecimento sobre metodologia de ensino, percebe-se a falta de coerência entre atividade desenvolvida e objetivo. Como se não bastasse esse desperdício de tempo em sala de aula, há aluno ou outro envolvido no processo educacional,  que desprovido de conhecimento sobre didática, acaba julgando o trabalho do professor sem conhecimento técnico melhor, em detrimento de técnicas não tão artísticas, mas eficientes em termos educacionais utilizadas por professores especializados.

“Professores, assim como escritores, também precisam inventar e cultivar uma voz, uma que sirva às suas necessidades pessoais tanto quanto à matéria com que está lidando, uma que pareça autêntica”. (p. 80)
E dá-lhe voz! Para cada turma, dia da semana, assunto há uma voz diferente. Sem contar que a voz muda dependendo dos alunos que estão presentes no dia.
Deve-se acabar com a noção tola de que uma máscara não é "autêntica", de que há algo vergonhoso em "não ser você mesmo". Autenticidade é, em última instância, uma construção, algo inventado – tem muito a ver com um determinado conjunto de roupas que parecerá autêntico, ou não, conforme o contexto. (p.81)
Para cada turma, uma máscara diferente. E isso se aplica à fora da sala de aula.

“Muito depois de termos esquecido o que nossos professores nos ensinavam na faculdade, lembramos de suas roupas”. (p. 91)

“O que meus professores vestiam parecia sugerir muito sobre a maneira de abordarem sua matérias, aflições ideológicas e modo de ver o mundo”. (p.93)
No meu caso, uso calças que não mostrem tanto os contornos do meu traseiro (afinal, quero que meus alunos aprendam a falar inglês... esse deve ser o foco!) e camisetas que não mostrem minha barriga quando estou escrevendo no quadro, ou seja, a escolha da minha roupa é puramente profissional.

“Até certo ponto, a área de conhecimento acadêmico do professor determina seu estilo de roupas.” (p.101)

Professores de línguas, especialmente aqueles com conexões europeias, parecem pensar que estão passeando nas ruas de Paris ou Roma, embora morem num estado onde o número de vacas ultrapassa a população humana. Com frequência usam tecidos caros, com corte europeu. As mulheres que ensinam línguas estão sempre extremamente bem vestidas, com muitas estolas de seda e casacos finamente talhados. Algumas usam vestido. (p.102)
Engraçado como as professoras de inglês jovens são todas cheias de estilo no que toca à roupa; pintam o cabelo, se preocupam com a cor do esmalte... Pessoalmente, creio que querem conquistar os alunos mais pelo o tempo que empregam se arrumando e postando a foto do look no Facebook  do que pelo tempo que empregam preparando uma aula (o qual é sempre permeado pelo Skype, WhastApp e afins on).

“Nós imaginamos, tolamente, que grandes quantidades de tempo são necessárias para realizar um projeto, para reativar as máquinas do pensamento. (...) A maioria dos bons trabalhos são feitos em curto espaço de tempo”. (p. 115)
Só o que não é  bem feito em um curto espaço de tempo são aquelas coisas pessoais que os professores gostariam de fazer, mas não conseguem devido ao tempo empregado fora da sala de aula para desempenhar atividades relacionadas à sala de aula.

“Já peguei a mesma ideia e tentei dar-lhe a forma de um poema, depois de um conto, depois de um ensaio. Pode-se, certamente, adaptar uma ideia de uma forma para outra; porém, realmente acredito na forma ideal para cada ideia, e me empenho para encontrá-la”. (p. 118)
Aí reside o conceito de gênero textual, querido leitor.

“Falamos, porém é Deus quem ensina”. Santo Agostinho (p. 152)
“Remanescentes excêntricos do marxismo tendem a se concentrar em departamentos de língua e literatura, onde o jargão é tão espesso que ninguém consegue mesmo entender o que estão dizendo, algo que os torna inofensivos”. (p. 172)

“Na realidade, a última safra de formandos parece apolítica, amplamente preocupada com sua própria sobrevivência econômica”. (p. 177)
De fato, não consigo entender como pessoas  com nível superior, que tiveram contato com as maneiras mais seguras de acesso a informação nas aulas de metodologia científica, pessoas que se formaram por conseguir redigir um trabalho de conclusão de curso (pelo menos, espera-se que elas tenham redigido o próprio trabalho...) não se interessam por política e não produzem comentários acerca desse assunto. Seria muito bom se as pessoas usassem as redes sociais para, além do compartilhamento dos posts alheios, escreverem o que pensam sobre o que quer que seja. Muita gente apenas se preocupa em ganhar mais  (o que é justo), mas não usa o cérebro para muita coisa (além de achar ruim quando encontra alguém que não tem vergonha de escrever, seja lá o que for).

Enfim, essa é a minha visão geral sobre o livro. Para formar sua própria opinião acerca dele, é imprescindível que você mesmo o leia.

Luciana Estarepravo da Silva
Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A interação entre o conhecimento prévio e o conhecimento linguístico no processo de construção da opinião



Formar uma opinião acerca de algo é uma prática natural do cotidiano, contudo, o processo para se chegar a uma opinião não é algo tão simples.
Para não acabar formando uma ideia equivocada sobre algo a reflexão é uma etapa imprescindível no processo de construção da opinião.
A palavra reflexão remete a um processo interno, o qual o indivíduo desenvolve sozinho. Sendo assim, é por meio da reflexão que uma pessoa traz um tema para seu interior e o analisa, com base em seu conhecimento de mundo, e, dessa análise, extrai sua opinião acerca do tema em questão.
Todavia, os conhecimentos de mundo, ou seja, os conhecimentos prévios, que o indivíduo possui acerca de determinado assunto podem não ser suficientes ou podem ser ultrapassados, o que pode levar a uma opinião falha acerca de algo.
Ora, opinião é, por si só, opinião; logo, não há opinião certa ou errada, há apenas opiniões diferentes.  Entretanto, é claro que opiniões que não são embasadas em argumentos convincentes se tornam irrelevantes e podem causar um caos social. É por causa de opiniões sem embasamento válido que certos maus, como a discriminação, ainda atingem a sociedade.
Mas o processo de formação da opinião não depende apenas do conhecimento prévio e da reflexão. Ele também depende da linguagem.
Vygotsky, nome importantíssimo no campo da educação por suas considerações sobre o sociointeracionismo, afirma que o pensamento só pode ser estruturado por meio da linguagem.
Dessa forma, a primeira ferramenta necessária em todo esse processo de formação de opinião é a linguagem, por meio da qual se tem acesso ao conhecimento prévio, o qual, por sua vez, vai permitir ao sujeito formar sua opinião sobre algo.
Ao formar essa opinião, se o indivíduo deseja expressá-la, também necessitará da linguagem para tal.
É nesse ponto que existe uma semelhança entre os resultados provenientes do grau de conhecimento prévio e do grau de conhecimentos linguísticos.
A qualidade ou credibilidade de uma opinião é proporcional ao nível de conhecimento prévio que o indivíduo possuía sobre o assunto antes de formar uma opinião sobre ele. Alguém, por exemplo, pode dizer que o produto da marca X é melhor que o da marca Y sem possuir muitas informações sobre a matéria-prima envolvida na fabricação de ambos. Simplesmente dizer que a marca X é melhor do que a Y pode dar certa credibilidade à opinião, mas dizer que a marca X é melhor do que a Y porque X utiliza os elementos A, B e C em sua composição irá conferir mais credibilidade à opinião. Dessa forma, é possível afirmar que quanto mais informação envolvida na opinião, maior credibilidade ela terá.
Isso também se aplica à linguagem no que tange a expressar a opinião. Se alguém expressa sua opinião sobre algo construindo as frases adequadamente do ponto de vista gramatical e lexical, sem dúvida sua opinião terá mais credibilidade que a opinião de alguém que não se esforçou em empregar os recursos linguísticos segundo a sua forma e função.
É possível que opiniões expressas com deficiências linguísticas sejam não apenas compreendidas, mas também levadas em consideração; mas, para efeito de aproveitamento de opinião para alguma coisa, como a tomada de decisão ou mesmo levantamento de informação com algum objetivo, é a opinião bem estruturada que chamará mais a atenção.
Em suma, dessa reflexão pode-se extrair que se alguém decide compartilhar sua opinião com outros, seja pelo meio (suporte) ou razão que for, suas chances de obter credibilidade serão maiores se esse indivíduo o fizer de forma bem estruturada.

Luciana Estarepravo da Silva
Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)