terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A interação entre o conhecimento prévio e o conhecimento linguístico no processo de construção da opinião



Formar uma opinião acerca de algo é uma prática natural do cotidiano, contudo, o processo para se chegar a uma opinião não é algo tão simples.
Para não acabar formando uma ideia equivocada sobre algo a reflexão é uma etapa imprescindível no processo de construção da opinião.
A palavra reflexão remete a um processo interno, o qual o indivíduo desenvolve sozinho. Sendo assim, é por meio da reflexão que uma pessoa traz um tema para seu interior e o analisa, com base em seu conhecimento de mundo, e, dessa análise, extrai sua opinião acerca do tema em questão.
Todavia, os conhecimentos de mundo, ou seja, os conhecimentos prévios, que o indivíduo possui acerca de determinado assunto podem não ser suficientes ou podem ser ultrapassados, o que pode levar a uma opinião falha acerca de algo.
Ora, opinião é, por si só, opinião; logo, não há opinião certa ou errada, há apenas opiniões diferentes.  Entretanto, é claro que opiniões que não são embasadas em argumentos convincentes se tornam irrelevantes e podem causar um caos social. É por causa de opiniões sem embasamento válido que certos maus, como a discriminação, ainda atingem a sociedade.
Mas o processo de formação da opinião não depende apenas do conhecimento prévio e da reflexão. Ele também depende da linguagem.
Vygotsky, nome importantíssimo no campo da educação por suas considerações sobre o sociointeracionismo, afirma que o pensamento só pode ser estruturado por meio da linguagem.
Dessa forma, a primeira ferramenta necessária em todo esse processo de formação de opinião é a linguagem, por meio da qual se tem acesso ao conhecimento prévio, o qual, por sua vez, vai permitir ao sujeito formar sua opinião sobre algo.
Ao formar essa opinião, se o indivíduo deseja expressá-la, também necessitará da linguagem para tal.
É nesse ponto que existe uma semelhança entre os resultados provenientes do grau de conhecimento prévio e do grau de conhecimentos linguísticos.
A qualidade ou credibilidade de uma opinião é proporcional ao nível de conhecimento prévio que o indivíduo possuía sobre o assunto antes de formar uma opinião sobre ele. Alguém, por exemplo, pode dizer que o produto da marca X é melhor que o da marca Y sem possuir muitas informações sobre a matéria-prima envolvida na fabricação de ambos. Simplesmente dizer que a marca X é melhor do que a Y pode dar certa credibilidade à opinião, mas dizer que a marca X é melhor do que a Y porque X utiliza os elementos A, B e C em sua composição irá conferir mais credibilidade à opinião. Dessa forma, é possível afirmar que quanto mais informação envolvida na opinião, maior credibilidade ela terá.
Isso também se aplica à linguagem no que tange a expressar a opinião. Se alguém expressa sua opinião sobre algo construindo as frases adequadamente do ponto de vista gramatical e lexical, sem dúvida sua opinião terá mais credibilidade que a opinião de alguém que não se esforçou em empregar os recursos linguísticos segundo a sua forma e função.
É possível que opiniões expressas com deficiências linguísticas sejam não apenas compreendidas, mas também levadas em consideração; mas, para efeito de aproveitamento de opinião para alguma coisa, como a tomada de decisão ou mesmo levantamento de informação com algum objetivo, é a opinião bem estruturada que chamará mais a atenção.
Em suma, dessa reflexão pode-se extrair que se alguém decide compartilhar sua opinião com outros, seja pelo meio (suporte) ou razão que for, suas chances de obter credibilidade serão maiores se esse indivíduo o fizer de forma bem estruturada.

Luciana Estarepravo da Silva
Especialista em Docência da Língua Inglesa e formada em Letras (Português/Inglês)

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